Publicado em 01 Fevereiro 2016
Euclides Oliveira
Ele trabalhou na roça e virou servente de obras. Do mato para o concreto, foi difícil. Mal sabia mexer com cimento, mas fez não hesitou em botar a mão na massa. Com a picareta nas mãos, derrubou várias pedras e a vida seguiu adiante. Tomou gosto pela topografia e avançou de forma milimétrica um passo de cada vez. Foi vender lotes, virou corretor. E com o concreto que preparou, muitas casas edificou. Foi dessa forma, cheia de lutas e desafios, que o engenheiro-agrimensor, corretor de imóveis e empreendedor Xisto Damas, de 62 anos, fez sucesso como empresário e descobriu, ainda jovem, o interesse pela vida pública. Vereador entre 1993 e 1996 na gestão do ex-prefeito Valdeto Ferreira Rodrigues (PDT), Xisto ainda foi dono de granja e tornou-se um grande articulador político. Agora, em 2016, acalenta o sonho de disputar a Prefeitura de Niquelândia nas eleições de outubro pelo Partido Ecológico Nacional (PEN). "Quero fazer um trabalho para fugir da polarização entre dois nomes. No meu entendimento, estou preparado para governar o município, que passa por um momento de muito sacrifício. O próximo prefeito de Niquelândia, seja lá quem for, precisa ser dinâmico, criativo e sério", afirmou o pré-candidato.
Diário do Norte – Antes de firmar-se como empresário da construção civil em Niquelândia, o senhor cumpriu difícil trajetória pessoal. Como foi esse período?
Xisto Damas – Eu nasci em Patos de Minas (MG) e cheguei em 1964 em Niquelândia aos 11 anos, com minha família. Fomos morar na Fazenda Ferrador para trabalhar com o Paulo Rocha - pai do ex-deputado e atual secretário de Estado, Vilmar Rocha. O Paulo Rocha era muito conhecido aqui e nos deu condição, porque a cidade não oferecia alternativas para meu pai, que era amansador de boi. Fui lavrador e trabalhávamos por dia para ganhar um litro de gordura; um quilo de toucinho; ou um quarto de arroz, no tempo da colheita. Depois, com 22 anos, decidi sair da roça e fui para Brasília trabalhar como servente de obras. Passei muito frio e dormi alguns meses nos bancos da rodoviária, com uma roupa e uma coberta. Tive de cavar valetas; fazer concreto; e quebrar pedras, na picareta. Depois, fui para uma indústria de artefatos de cimento que também fazia loteamentos, como ajudante de topógrafo, em 1977/78. Depois, já casado e ganhando um pouco mais, fui estudar Agrimensura em nível técnico, em Goiânia. Fui trabalhar em Alexânia, mas não tinha vínculo empregatício com meu patrão. Ele foi embora e me deixou com o loteamento da empresa. Eu não era corretor credenciado (no Creci), mas a empresa me deu a oportunidade de trabalhar como vendedor de lotes. Eu tremia muito e não conseguia preencher as propostas (de compra e venda). Porém, certa vez, vendi 17 lotes num único dia. Depois, fiz um curso de transações imobiliárias e também me formei nessa área. Em Abadiânia, concluí um grande loteamento em 1982, o que deu mais uma arrancada na minha vida financeira. Peguei, também, o Loteamento Águas Lindas, que era um Cerrado 'bruto', onde hoje é a cidade de Águas Lindas de Goiás, no Entorno de Brasília. Isso me rendeu outras experiências importantes no Mato Grosso; no Pará; e aqui no Norte de Goiás, na área da construção civil.
DN – E como foi o retorno do senhor para Niquelândia? A política surgiu em que momento na vida do senhor?
Xisto – Como eu ainda não era conhecido, as pessoas não tinham referências do meu trabalho como agrimensor e como corretor. Por isso, fui plantar tomate, em 1985. Montei meu primeiro escritório de agrimensura perto da rodoviária. Meu primeiro projeto, em Niquelândia, foi a implantação da Vila São Paulo, na região da Vila Mutirão, cuja área era justamente do Paulo Rocha, por coincidência. Fiz alguns serviços para a Prefeitura de Niquelândia e acabei me interessando pela política-partidária em 1988 quando percebi a pobreza; as dificuldades do produtor rural; com as estradas; com a Educação. Niquelândia não tinha saneamento básico e a água era fornecida por caminhão-pipa, dentre outras dificuldades. Fui candidato a vereador e me tornei primeiro suplente pelo PTB, com 143 votos. Foi uma surpresa muito grande. Só não ganhei a eleição por falta de experiência. Em 1990, fundei o diretório do então Partido Liberal (PL) em Niquelândia. Naquela época, enfrentar a organização do PMDB - nacional, estadual e municipal - era uma utopia muito grande.
DN – Em 1992, o senhor foi eleito vereador com 346 votos, tendo Valdeto Ferreira como prefeito até 1996. Foi uma boa experiência?
Xisto - Criei, naquela época, o Censo Municipal da Educação, quando localizamos crianças fora da sala de aula por falta de lápis e borracha, porque havia muitas mães solteiras em situação de extrema pobreza, sem nenhuma orientação social. Durante os quatro anos que fui vereador, fui secretário municipal de Transportes e de Urbanismo no governo do Valdeto, que foi altamente responsável nas questões humanas. O Valdeto, naquela administração, preocupou-se mais com o cidadão niquelandense do que com a política.
DN – O maior empreendimento do senhor, como empresário, é o Residencial Cidade Nova, no Faz Tudo/Quebra Linha. Os planos de emancipação dos dois povoados ainda estão de pé?
Xisto – Depois da Fazenda Dongá e da implantação do Bairro Boa Vista - que também foi importante para a minha empresa - implantei o Residencial Cidade Nova com 630 lotes - cada um com 250 metros quadrados de área em média. Esse foi um bom salto da XD Imóveis. Mas também é o projeto do meu coração, pois minha primeira votação em Niquelândia foi justamente no Faz Tudo, onde ainda eu não era muito conhecido. Quando fui vereador, iniciei minha preocupação com essa emancipação e, para isso, criamos o Projeto de Lei para a instalação do Distrito de Vila Taveira, em 1994. Porém, recentemente, a presidente Dilma Rousseff decidiu vetar a criação de novos municípios, o que não ocorre desde 1996. Mas, no nosso entendimento, o Faz Tudo/Quebra Linha - hoje com cerca de 8.000 moradores e distante 45 quilômetros da sede do município de Niquelândia - atenderia todos os requisitos à emancipação já que a presença do Poder Público pela distância (de 45 quilômetros) é mais difícil, hoje. A emancipação é a minha esperança - enquanto eu estiver vivo - para levar mais qualidade de vida aos moradores daquela região.
DN – Na eleição municipal de 2012, houve a união dos candidatos Gilmar Louredo e Conceição Veloso em torno do seu candidato a prefeito, Evaldo Rincon, que acabou sendo derrotado pelo prefeito, Luiz Teixeira. Como foi aquela campanha?
Xisto – Olha, eu não qualificaria esse fato de 2012 como uma união, mas como um ato de desespero político de todos os candidatos que não conseguiam pontuar além dos 8% nas pesquisas. Tinham que pagar pessoal (os cabos eleitorais) para finalizar a campanha. Essa união não decidiu a eleição, mas sim a questão financeira dos candidatos. E, por esse ato de desespero, a Conceição renunciou; o Gilmar não decidiu nada; e o Jean (Cintra, médico, outro candidato), decidiu ficar como estava (mantendo a candidatura). E o eleitorado decidiu ficar com o Luiz porque já era um nome conhecido, que o povo já estava mais acostumado. O Evaldo disputou a eleição de maneira digna, mas faltaram algumas estratégias. Porém, a estrutura de campanha do atual prefeito Luiz Teixeira era melhor e mais homogênea que a nossa. E o resultado (das urnas) não tinha como ser diferente.
DN – Como estão os planos do senhor para as eleições de 2016?
Xisto – Estou filiado ao PEN e, quando eu e o Tacimar (Negão) entramos, não havia nenhuma perspectiva. Porém, o diretório estadual do partido me colocou a seguinte questão: "Você sairia candidato a prefeito independentemente de qualquer situação?" Eu falei que sim. Por isso, nós temos um projeto para disputar a Prefeitura de Niquelândia. Depois de vários anos atuando como colaborador/coordenador de campanhas (de Luiz Teixeira, em 2008; e de Evaldo Rincon, em 2012), isso me credencia. Porém, quero fugir dessa polarização entre dois nomes, com uma proposta de valorização ao ser humano; e tendo o povo niquelandense como prioridade. No meu entendimento, hoje estou preparado para governar o município, que passa por um momento de muito sacrifício. Precisamos fortalecer o comércio de Niquelândia; fazer girar a economia. Fazendo isso, fortaleceremos todos os demais segmentos do município, atraindo mais investidores. Vou convidar as lideranças políticas de Niquelândia para esse grande projeto, principalmente para nossos jovens que vão estudar nos grandes centros e acabam não voltando. Somente pelo conhecimento é que podemos melhorar a qualidade de vida das pessoas que moram aqui. O próximo prefeito de Niquelândia, seja lá quem for, precisa ser dinâmico, criativo e sério.
DN – A paralisação na produção de minério de níquel na Votorantim Metais preocupa o senhor?
Xisto – Vejo essa turbulência, hoje proporcionada pela Votorantim em nossa sociedade, com certo grau de tristeza. Niquelândia é um município que sempre foi muito importante para a Votorantim, mas agora é a hora de nossa cidade demonstrar capacidade de reação econômica e social. A cidade precisa sair dessa dependência da mineradora pois estamos perto de Brasília, um dos maiores mercados consumidores do Brasil; inseridos na maior bacia hidrográfica do Estado de Goiás; e temos um dos melhores climas do País, para atividades econômicas na área rural. Como agrimensor e administrador de imóveis, vejo que os 150.000 hectares de terras férteis da Votorantim Metais na cidade poderiam ser divididos por 1.500, o que daria 100 hectares de terras para cada proprietário. Dos 30.000 hectares de área da Fazenda Engenho, pelo menos 60% deles (18.000 ha) são de terras férteis. Como cada hectare está cotado em cerca de R$ 5 mil, a venda dessa área representaria cerca de R$ 30 milhões para a Prefeitura de Niquelândia investir no município, como fruto da arrecadação do ITBI (Imposto Sobre a Transmissão de Bens Imóveis) que seria cobrado do comprador - ou compradores - dessa propriedade.
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