Após passar anos a fio na Assembleia Legislativa, onde foi líder do governo, o atual secretário de Articulação Institucional, Daniel Goulart, fala à reportagem do Diário do Norte em tom de profecia: ‘o PT não vai perder a oportunidade e disputará o governo do Estado em 2014’. Acostumado a bater e a responder a oposição sempre que o governo entra na alça de mira, Goulart faz balanço das eleições municipais para jogar luz no resultado e nos seus reflexos para 2014. Ele não demonstra preocupação com a série de derrotas no Norte do Estado, a perda de terreno no Entorno do Distrito Federal e as vitórias da oposição nas três maiores cidades goianas. Para ele, o governo está no caminho certo e chegará em 2014 muito melhor do que se encontra hoje. Sobre o escândalo Cachoeira, acredita que a tendência é ‘passar’. E mais, revela que o governador está recuperando de uma forma muito rápido a sua imagem. Finalmente, avalia que hoje o foco do governo é de resgatar compromissos feitos na campanha de 2010 para chegar com força total na próxima eleição
Diário do Norte – Qual balanço o senhor faz da campanha de 2012, especialmente na Região Norte?
Daniel Goulart – Nós perdemos em algumas cidades importantes, como em Porangatu e Niquelândia. Mas recuperamos em Minaçu e São Miguel do Araguaia. Tive uma conversa com a prefeita eleita de São Miguel (Adaílza Crepaldi) e foi quando nós liberamos alguns partidos da base aliada para fortalecer o projeto de eleição dela.
DN – A prefeita eleita Adaílza vai se alinhar ao projeto do governo Marconi Perillo?
Goulart – Não tenho dúvida. Ela vem conosco sem nenhum problema. Interessante que a Azaíde Donizette ensaiou vir para o PSDB, mas o Jr. Friboi entrou na conversa e ela acabou se filiando no PSB. Agora, eu vejo que o desempenho no Norte não foi satisfatório. Temos que entender que a história política é cíclica. Nós estamos no poder em Porangatu há 16 anos. E acho que houve desentendimento na base lá na cidade. Tudo isso precisa ser melhor avaliado e com tempo. Já em Niquelândia o problema foi a crise mundial de 2008. A cidade não conseguiu recuperar a queda na arrecadação. A receita caiu bastante e muitos problemas foram surgindo. E o prefeito Ronan Batista, por mais que ele desempenhasse um papel importante à frente da prefeitura, não conseguiu superar. Na Região do Entorno do Distrito Federal eu diria que nós perdemos um pouquinho de terreno. Mas crescemos no Sudoeste. Nós retomamos a prefeitura em Quirinópolis, Goiatuba e conseguimos manter a nossa base em Morrinhos, Caldas Novas. O Evandro Magal é governo. Ele estará conosco. Em Itumbiara mantemos também. Mantivemos Rio Verde. Perdemos em Jataí e Mineiros. Em Santa Helena a situação e interessante. O governador Marconi Perillo teve uma conversa com o prefeito (Judson Lourenço - PMDB), que é adversário histórico do Alcides Rodrigues, e lá nós vamos fazer um trabalho para assegurar uma parceria administrativa que pode evoluir para uma parceria política no futuro.
DN – Voltando a questão de Porangatu, o senhor acha que foi um erro de Gláucia Melo se afastar do prefeito José Osvaldo, considerando que os dois são do PSDB?
Goulart – Não sei se essa orientação para ela se afastar foi correta. Lá o problema é o ciclo dilatado. As demandas crescentes e não foi possível construir nesse terceiro governo Marconi uma parceria que eles esperavam para devolver a atenção de sempre. Nós encontramos muita dificuldade no primeiro ano de governo. No segundo ano as dificuldades continuaram. Eu não sei avaliar bem. Precisaria investigar melhor a situação. Agora, a gente sentia desgaste do prefeito. A avaliação do prefeito não era positiva. Com certeza, isso pode ter atrapalhado.
DN – A ausência do governador Marconi na campanha em todo o Norte pode ter contribuído para o resultado negativo nas urnas?
Goulart – Sim. É possível. Mas é difícil fazer essa avaliação. O problema de Porangatu foi realmente desentendimentos na própria base. O Eronildo Valadares esteve conosco em 1998. Ele foi um dos coordenadores de Marconi em 1998. Ele era o coordenador da campanha na Região Norte. E hoje o problema foi de divergência interna dentro da nossa própria base.
DN – O que foi determinante para que o PSDB retomasse o poder em Goianésia?
Goulart – No Vale do São Patrício nós ganhamos em Goianésia. Vamos construir um entendimento bom em Jaraguá, onde temos o prefeito de um partido da base (PTB). O entendimento será bem melhor do que ocorre hoje em relação ao Lineu Olímpio. Teremos lá uma situação bem mais desarmada. Em Itapuranga o prefeito é de um partido da base. Em Ceres houve divisão da base. Agora, em Goianésia temos uma situação emblemática e simbólica. Trata-se da cidade de um ex-governador do Estado (Otávio Lage).
DN – A vitória do PT em Anápolis é fator de preocupação para o governador Marconi Perillo, pensando em 2014?
Goulart – Anápolis temos uma situação um pouco diferenciada. Em 2008 o prefeito Antônio Gomide venceu. E logo em seguida, em 2010, o governador Marconi Perillo venceu lá com mais de 70% dos votos. O anapolino não tem paixão por sigla partidária. Basta ver que o Gomide tem uma boa avaliação e foi reeleito. Agora, o anapolino tem um carinho especial com o governador Marconi Perillo. Trata-se de um eleitor diferenciado. E pela atenção que o governador tem dispensado a Anápolis, acho que isso não muda. Agora, eu acho que pelo resultado na cidade, acredito que o PT vai apresentar o Gomide como candidato a governador em 2014.
DN – Com base em que o senhor faz essa análise?
Goulart – Com base no resultado das eleições, além da própria história dele e do irmão (Rubens Otoni), que sempre teve o sonho de ser candidato a governador. Acredito que ele não terá outra oportunidade em pleitear essa vaga. Eles têm a Dilma na presidência e as condições para buscar o mandato. Pode ter certeza de que eles não vão perder essa oportunidade de buscar o mandato de governador. Gomide será candidato.
DN – Quais serão os critérios para se confirmar uma candidatura à reeleição do governador Marconi Perillo em 2014?
Goulart – Hoje o pensamento é de resgatar os compromissos firmados com a sociedade em 2010. Vamos receber muitos recursos, que virão do BNDES, da Caixa Econômica Federal (CEF) e de outras fontes. O foco é a administração. Os indicadores econômicos e sociais em Goiás são altamente positivos. Nunca na história do Estado tivemos indicadores tão importantes e positivos. Teremos safra recorde. Assim, teremos um cenário completamente diferente. O governador Marconi tem recuperado a sua imagem de uma forma muito rápido. Isso tem surpreendido setores da oposição. Vou dar um exemplo, em duas cidades onde resgatamos um compromisso histórico, que é a ligação asfáltica entre Uruana e Itapuranga. Nós temos pesquisa lá onde o governo tem avaliação positiva de 70% da população em razão dessa e de outras obras. Então, onde damos resposta, a situação muda. Essa crise envolvendo Cachoeira já se acomodou.
DN – O senhor não vê nenhuma relação no bom desempenho de PT e PMDB nas grandes cidades com o caso Cachoeira, refletindo de forma negativa no resultado para os candidatos ligados ao governo?
Goulart – O Mensalão foi o maior escândalo da história republicana. Talvez ele tenha ficado um pouco mais distante, embora o julgamento ocorra no momento eleitoral. Agora em Minaçu, na base principal do Carlos Leréia, temos um divisor. Lá não teve reflexo nenhum o escândalo Cachoeira. Isso com o tempo vai passando. Houve um festival de ti-ti-ti. Mas as pessoas ficam aguardando o pronunciamento da Justiça. E é interessante que às vezes nem o pronunciamento da Justiça consegue interferir. Basta ver a situação de São Paulo, onde o Serra está perdendo para o candidato do PT.
DN – Quem será o grande adversário do governo nas eleições de 2014: o PT, o PMDB ou Junior Friboi?
Goulart – Teremos dois grandes adversários: o PT e o PMDB. Ambos terão candidatos próprios. No primeiro turno serão três candidaturas fortes.
DN – O senhor vê um movimento das oposições similar ao que aconteceu em 1998, quando o governador Marconi venceu pela primeira vez; ou o senhor entende que a oposição vai se dividir?
Goulart – Veja o que acontece com o Vanderlan Cardoso. Estão dizendo da possibilidade dele filiar no DEM. O Friboi quer ter candidato. O Iris Rezende estando bem de saúde não abre mão para ninguém. E acho que o PT não perderá essa oportunidade. E nós estaremos numa situação bem melhor.
DN – Dentro de tantas candidaturas citadas pelo senhor, o senhor incluiria o próprio DEM, uma vez que Ronaldo Caiado tem falado do seu sonho de governador Goiás?
Goulart – O DEM não sai da base do governador. Hoje temos uma aproximação muito grande do vice-governador José Eliton com o governador Marconi. Ele vai trabalhar para que o DEM continue sendo nosso parceiro estratégico.
DN – O pífio desempenho do DEM nas eleições municipais não ocorre justamente por não ter essa característica de lançar candidatos próprios?
Goulart – O DEM tem uma bandeira importante e é um parceiro estratégico. Se você olhar o desempenho do DEM hoje, talvez não tenha sido o que foi buscado, mas isso ocorreu muito em função da criação do PSD. O fato é que estaremos em 2014 numa situação muito melhor. Agora precisamos acertar na comunicação. Por exemplo, como é que podemos mostrar ao cidadão como é que o governo consegue impulsionar o PIB. Isso precisa ser feito num linguajar claro. Essas coisas não caem do céu ou são fruto do acaso. Precisamos mostrar onde o governo participou para ajudar no fortalecimento do Estado. Precisamos mostrar isso de forma clara e objetiva.
DN – Tem se falado muito em reforma administrativa agora que se encerrou o período eleitoral. O que o Norte do Estado pode esperar em termos de participação?
Goulart – Teremos reforma administrativa, sim. Mas será pontual. Teremos remanejamentos e algumas mudanças. Vamos contemplas forças emergentes. Isso fortalece a governabilidade. Todo governo faz isso. Em áreas essenciais, como na segurança, teremos a troca de comando. Será, sim, um delegado da Polícia Federal, que vai nos aproximar, inclusive, do Ministério da Justiça. Na saúde nós superamos os principais gargalos com a entrada das OSs. A saúde saiu da mídia negativa. Nós tiramos a educação da mídia negativa. O IDEB mostrou que estamos no caminho certo. Em relação a Celg será com tempo que vai melhorando. Vamos chegar em 2014 numa situação bem melhor do que hoje. Em relação ao Norte, a região será contemplada, sim. O governador foi claro em fazer parcerias com todos os prefeitos, independente da cor partidária, inclusive do próprio PMDB. E o Norte vai continuar com a chegada do Júlio da Retífica na Assembleia.
DN – Mas essa não é uma ação do governo?
Goulart – Ação do governo será mesmo as parcerias administrativas. E temos os projetos do governo que serão tocados na região. Temos recuperação de estradas que serão tomadas. Às vezes a falta de parceria, não por parte nossa, pode até dificultar. Mas o que depender do governo do Estado.
DN – Em relação à cidade de Aparecida de Goiânia. Essa foi a segunda derrota do governo na cidade. O que acontece?
Goulart – Nosso grupamento foi para a oposição na cidade, mas não aprendeu a fazer oposição. Eu comecei fazer oposição ao governo do prefeito Maguito Vilela na Assembleia e não tinha respaldo dos deputados da cidade, Marlúcio Pereira e dr. Valdir. Acho que eles precisam aprender a fazer oposição.