euclides oliveira

Uma das mais famosas duplas sertanejas do momento, Victor e Léo, esteve em Niquelândia na semana passada e falou com exclusividade ao Diário do Norte, quando defenderam a pirataria de CDs.
A dupla Victor & Léo se apresentou na noite de quarta-feira (25), na 14ª Exposição Agropecuária de Niquelândia, quando arregimentou um público superior a 20 mil pessoas, para um show impecável, repleto de efeitos especiais, com cerca de duas horas de duração, encerrado por volta da 1 hora da madrugada de quinta-feira (26). Extremamente atenciosos com o público e com a imprensa, os irmãos – nascidos em Ponte Nova (MG) – concederam uma entrevista à reportagem do DN e posaram para várias fotos, no camarim, antes do show. Em 40 minutos de conversa, Victor & Léo falaram do início da carreira, nos idos de 1992; das muitas idas para Belo Horizonte (MG) e São Paulo (SP); da mescla de estilos dos CDs Vida Boa, de 2004, quando emplacaram a música “Amigo Apaixonado”; e do álbum “Victor & Léo – Ao Vivo, de 2006”, com os hits “Lembranças de Amor”, “Sinto Falta de Você” e “Fada”.
Discorreram, ainda, sobre pirataria no mercado fonográfico; sobre política; criticaram a existência de certos rótulos musicais; e também falaram sobre as dificuldades de entrar no mundo artístico, sobretudo para os novos talentos. Durante o show, a dupla interagiu no palco com o prefeito de Niquelândia, Ronan Batista, que chegou a anunciar a contratação dos artistas para a festa do próximo ano, sendo bastante aplaudido; e com as 50 pessoas portadoras de necessidades especiais levadas ao espetáculo pela primeira-dama, Gracilene Batista. A dupla ainda levou ao palco um grupo de crianças para acompanhá-los na canção Vida Boa; e causou frisson na platéia – dando muito trabalho aos seguranças – ao descer do palco para distribuir apertos de mãos às inúmeras fãs. "Nós nos sentimos em casa em Goiás, sempre recebendo com muito carinho do público. É uma honra para nós estarmos em Goiás, sempre", disse Léo.
[b]Diário do Norte[/b] – No final de 2002, quando tudo parecia bem encaminhado na carreira de vocês, a dupla resolve deixar a gravadora Number One, dos conhecidíssimos Eduardo e Silvinha Araújo, ícones da Jovem Guarda. Essa não foi uma decisão muito arriscada, naquela época?
[b]Victor[/b] – Não. Acho que qualquer decisão que você toma na vida há um risco para correr, seja ela qual for. Todos os riscos que resolvemos correr foram aqueles que, intencionalmente, nos levariam a um crescimento. Mesmo que a gente pagasse para ver algum tipo de resultado sofrido, nós aprendíamos com isso. Então, a gente continua crescendo. Quando saímos da gravadora, foi uma questão profissional e também artística, uma vez que queríamos traçar o próprio caminho de produção dos nossos trabalhos musicais, 'arranjar' nossas músicas. Em geral, naquela gravadora, nós tínhamos um contrato em que o diretor musical era separado da dupla. Assim como esse CD ao vivo que estamos lançando agora, nós também produzimos e arranjamos o CD anterior. Era o que queríamos fazer e acabou dando certo. A nossa intenção não é apenas musical, mas espiritualista, de forma que nós acreditamos que a nossa música seja energia de luz, de paz, de amor, de harmonia, de Deus e palavras como família. É só isso.
[B]DN[/B] – No segundo CD desta nova fase, que foi o trabalho "Vida Boa" em 2004, já com o sucesso da canção "Amigo Apaixonado", já dava para imaginar que vocês chegariam ao sucesso que desfrutam hoje?
[b]Léo[/b] – Imaginar, nós nunca imaginamos quando vai ser. Não há como. Acho que isso está nas mãos de Deus. Agora, eu e o [b]Victor[/b] sempre acreditamos muito. Desde o início, acreditamos no nosso sucesso, na nossa música, no nosso talento e na nossa capacidade, que é primordial para qualquer ramo. Sempre tivemos isso em mente. Fomos as primeiras pessoas a acreditar. Quando você trilha um caminho com amor, com verdade, com dedicação, em prol das pessoas, não tem como dar errado.
[B]DN[/B] – Qual foi a maior dificuldade encontrada pela dupla no início da carreira?
[b]Victor[/b] – A entrada em rádio, especialmente nas metrópoles e nas grandes cidades, é um círculo que está muito fechado ainda, por se tratar de um mercado disputado e competitivo. E também acho que é natural ter um caminho para conseguir chegar, passando por todas as situações e fases. Encontrar realmente o seu próprio estilo, sabe? Isso é uma coisa que só o tempo poderá lhe mostrar, com bastante experiência, que vai lhe trazer isso. Acho que não podemos enxergar como dificuldades, mas como lições que tínhamos que aprender e passar por elas.
[B]DN[/B] – Em 2006, o terceiro CD de vocês – [b]Victor[/b] & [b]Léo[/b] Ao Vivo – estourou em rádios de Uberlândia (MG) e logo ganhou as paradas do Brasil, com os hits "Fada" e "Sinto Falta de Você". O que mudou na vida de vocês, desde então?
[b]Victor[/b] – Mudou 100%. Na verdade, o CD anterior, Vida Boa, que é o independente, nós só o trabalhamos em casas noturnas. Ele foi vendido apenas em São Paulo, nos locais onde nos apresentávamos. Esse CD foi feito sem nenhuma intenção mercadológica, por ser moda gravar ao vivo, mas gravado à pedido do nosso público, em São Paulo. E saiu de lá naturalmente. Acabou chegando em Uberlândia, foi tocado pela primeira vez numa FM. Nós não levamos esse CD para lá, mas o trabalho ali despontou. Acabamos, inclusive, gravando o DVD em Uberlândia para comemorar. De Uberlândia, o CD 'partiu' para outras FMs em Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pará e até ao Rio Grande do Sul, onde está sendo muito bem executado, sem que a gente precise colocar uma verba sequer para conseguirmos isso. O CD é executado pelos radialistas, os quais nós consideramos os nossos maiores parceiros. Vejo que o rádio é o grande monumento de mídia de qualquer artista, seja ele de qual casta for.
[B]DN[/B] – A pirataria no Brasil e a facilidade com que se baixam músicas na internet têm atrapalhado a vendagem dos CDs de vocês?
[b]Léo[/b] – A pirataria não ajuda ninguém, nem também atrapalha. Não dá para julgar isso. As pessoas nos perguntam: "É a pirataria que divulga vocês"? Não. Quem divulga a gente chama-se rádio, rádio que toca música. A televisão mostra a sua imagem e, muitas vezes, as pessoas, vendo uma 'coisa' bonita, acham que estão ouvindo algo bonito também. Antes de mais nada, antes da televisão, tem que ser o rádio, que mostra a música que você faz, nua e crua. As pessoas que ouvem o rádio, que gostam da sua música, precisam comprar o seu trabalho. No caso, essas pessoas não encontraram nosso trabalho em lojas, porque o CD era independente. Então, o único meio que o público teve para acessar o nosso CD foi pela pirataria, o que acabou sendo positivo.
[B]DN[/B] – Resgatando o início da carreira, os primeiros acordes, quem eram as principais referências musicais de vocês? Algum nome ou dupla especial?
[b]Léo[/b] – Sim, nós ouvimos de tudo, não apenas o sertanejo. Desde muito novo, sempre fomos muito ecléticos em relação à música. Nós ouvimos Trio Parada Dura e Sérgio Reis, deitados no colo do nosso avô. Em 1992, quando começamos a cantar, ouvimos música sertaneja de raiz. Ao longo do tempo, tomamos gosto por outros estilos musicais também, como pop internacional, rock internacional, blues. Meu irmão tem uma influência grande de alguns "blueseiros" americanos. A música regional brasileira também nos agrada, como Almir Sater e Renato Teixeira; e nordestinos, como Alceu Valença e Zé Ramalho. Independentemente do estilo, o que nos emociona, o que achamos que é bem feito, estamos ouvindo e curtindo.
[B]DN[/B] – Em Niquelândia, o show de vocês, trazido pelo prefeito Ronan Rosa Batista, foi o mais esperado do ano. O Estado de Goiás é considerado um dos berços da música sertaneja no Brasil, tendo projetado outras duplas famosas como Zezé di Camargo & Luciano, por exemplo. Como tem sido a receptividade da dupla nos municípios do interior goiano?
[b]Léo[/b] – É demais, cara. Quando eu e o [b]Victor[/b] temos shows em Goiás, saímos de casa sorrindo. É uma energia diferente, é um público diferente. Bacana demais, sabe? Os goianos são como os mineiros: pessoas simples, humildes, receptivas. Nós nos sentimos em casa em Goiás, com muito carinho do público. Não é da boca para fora. É uma honra para nós estarmos em Goiás, sempre.
[B]DN[/B] – Algumas duplas hoje dispensam o rótulo "sertanejo". Como vocês avaliam isso? Em qual estilo vocês se enquadram?
[b]Victor[/b] – O que a gente dispensa justamente são os rótulos. Nós precisamos assumir que fazemos música sertaneja, música de raiz, música regional, pop. Enfim, fazemos uma mistura musical. Se nós fizermos somente música sertaneja, nossa música seria sertaneja. Somente isso. "Fada" é uma música sertaneja? "Amigo Apaixonado" é uma música sertaneja? Dá para botar aspas nisso aí. Então, nosso estilo é uma música própria. Tanto é que fazemos questão de produzir, arranjar, dirigir os nossos trabalhos e compor a maioria das nossas canções.
[B]DN[/B] – Qual é o principal conselho que vocês podem deixar às duplas que estão começando na carreira? Há espaço para novos talentos nesse disputadíssimo mercado?
[b]Léo[/b] – Existem vários detalhes que precisam ser mudados, na minha opinião. Um deles é a competição entre artistas. O Brasil precisa deixar isso de lado, pois todo artista precisa se respeitado e valorizado. No meio sertanejo, sempre houve muita disputa. Os que estão chegando 'de baixo' nunca têm espaço, porque 'os caras que estão lá em cima' simplesmente não querem mais ninguém no mercado. Isso tem que acabar. Todos têm que dar as mãos, em nome da música, do amor e para emocionar as pessoas. Vamos levar isso à frente. Quem está começando, simplesmente, deve fazer o trabalho de mãos dadas com Deus e com o público. Desse jeito, não há outro caminho, a não ser o sucesso.
[B]DN[/B] – O que vocês esperam da classe política brasileira?
[b]Victor[/b] – Na verdade, esperar alguma coisa deles é muito complicado. Acho que ainda vai levar um tempo para o senso de cidadania do brasileiro começar a amadurecer. Ainda existe a responsabilidade pública. É muito fácil culpar os políticos, mas eles são pessoas que nós mesmos escolhemos. Se não havia opção, não optasse. É uma questão de cidadania ter o direito de optar ou não, de ir à luta e falar "bicho, saí daí, porque você está representando a gente mal"; ou então "continue, porque está indo bem". Todo mundo só fala mal, mas não faz nada. É por aí.