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lúcia vânia

“Programa social é eleitoreiro”

Senadora faz avaliação do quadro sucessório em Goiânia e defende mudança de postura e de comportamento por parte do PSDB na capital


Publicado em 15 Julho 2007

Rui Sabóia e João Carvalho, Brasília

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rui sabóia
No seu gabinete, no Senado Federal, Lúcia Vânia 
concede entrevista à reportagem do 
Diário do Norte
No seu gabinete, no Senado Federal, Lúcia Vânia concede entrevista à reportagem do Diário do Norte
Com uma fala mansa e a voz pausada, a senadora tucana Lúcia Vânia mostra que os longos anos de experiência política lhe ensinaram a não cometer erros primários nas suas ações. Por isso, ao ser questionada sobre o seu futuro político, ela diz que o projeto é a reeleição, mas está à disposição da base aliada para as eleições em Goiânia. Ao mesmo tempo em que expôe uma voz serena, ela fala com seriedade sobre a situação do PSDB na capital, onde, segundo ela, o partido vive em função do nome de Nion Albernaz. Nada foi criado depois dele. Por isso, o insucesso nas duas últimas eleições, em 2000 e 2004. Sobre quem vai comandar o PSDB em Goiás, Lúcia não vê nenhum problema se o escolhido for dono de mandato. “Isso é questão de fórum íntimo. Até porque, no período das eleições, o Congresso Nacional fica mais flexível”, ensina. Sobre Raquel Teixeira deixar o governo, Lúcia afirma que a deputada tem as suas razões, que também são de fórum íntimo, mas também de acordos feitos com o governador Alcides Rodrigues. Lúcia também orienta que não conhece nenhuma secretaria de ação social que tenha sobra de recursos. [b]/Diário do Norte[b] – Qual deve ser o critério para definição do Diretório Regional do PSDB? [b]Lúcia Vânia[/b] – Acredito que os critérios são aqueles que a gente vem perseguindo ao longo do tempo. Quem ocupar esse espaço precisa ter conhecimento, que seja conhecido em todo Estado, que tenha disponibilidade de trabalho. Fora disso, não existem outras exigências. Não acho tão complexa essa questão de presidir o PSDB. [B]DM[/B] – O parlamentar, em razão dos seus compromissos como parlamentar, tem condições de executar bem esse trabalho? [b]Lúcia Vânia[/b] – Essa é uma questão de fórum íntimo. Se o parlamentar estiver disposto a dividir as suas atribuições com o parlamento, não vejo razões para não indicar um parlamentar para essa função. Agora, haverá uma sobrecarga e uma exigência grande de presença. [B]DM[/B] – Nesse caso estariam incluídos os nomes de Leonardo Vilela (deputado federal) e de Daniel Goulart (deputado estadual)? [b]Lúcia Vânia[/b] – No período eleitoral há uma certa flexibilidade no Congresso Nacional, que permite ao parlamentar estar mais presente na base. [B]DM[/B] – E quais serão os critérios para formação dos diretórios municipais? [b]Lúcia Vânia[/b] – Temos feitos reuniões periódicas para pedir aos companheiros que abram o partido e que façam um esforço enorme para ter candidato próprio. Aliás, existe uma determinação do Diretório Nacional do PSDB exigindo que o PSDB tenha nomes próprios em todos os municípios. Pessoalmente, acho que é papel do partido fazer essa exigência, mas não tem que ser necessariamente só querer ter o candidato. Temos que preparar esse candidato. E quando o partido acena para candidaturas próprias nas cidades, cabe à direção partidária estruturar a legenda nos municípios, além de abrir o partido para todos os segmentos da sociedade. É preciso que o partido se modernize e se estruture de tal forma que ele possa realmente levantar as bandeiras da legenda. Sempre digo que quem ganha uma eleição municipal não são os parlamentares de fora. Não é o governador quem ganha. Quem ganha uma eleição municipal é o candidato local. Se ele tiver um bom trabalho e uma boa estrutura, ele terá todas as chances de vencer. Nós vamos emprestar o nosso apoio aos municípios, nós podemos colaborar. Mas nunca ninguém de fora ganha uma eleição municipal. Isso deve ficar bem claro para que os diretórios saibam ampliar as alianças e a base de sustentação. [B]DM[/B] – A senhora está fora do processo sucessório em Goiânia? [b]Lúcia Vânia[/b] – Não é minha pretensão disputar as eleições em Goiânia. Eu sempre colaborei com partido naquilo que o partido sempre precisou. Meu objetivo é ser candidata à reeleição. Agora, também não fujo se houver uma necessidade da minha presença. Nesse caso, estarei disposta. Mas não tenho essa pretensão e não vou colocar meu nome à disposição do partido a não ser que o partido busque isso. Mas minha pretensão é buscar a reeleição. Tenho feito um trabalho que considero importante para Goiás. Presido uma comissão importante para nossa região, que é a Comissão de Desenvolvimento Regional. Estou aqui relatando a reconstrução da Sudeco. Também realizo um trabalho parlamentar que beneficia principalmente a população de baixa renda. Consegui aprovar emenda no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) para construção de habitações na zona rural. Tenho conseguido trabalhar intensamente nas áreas de saúde, educação e na assistência social. Além disso, há a Comissão de Orçamento, de onde tenho manifestado minha preocupação em relação à negociação da dívida. Aliás, acompanho essa situação há bastante tempo. Portanto, acredito que a minha presença no Senado representa esse trabalho, que eu gostaria de dar continuidade a ele. Mas se o partido entender que eu deva ser candidata, estarei à disposição. Sei que o partido tem quadros excelentes que podem ser colocados. Temos também candidatos da base aliada, que são importantes, como Barbosa Neto (PSB), Raquel Teixeira (PSDB), Ernesto Roller (PP) e outros tantos. É uma verdadeira geração que ainda não teve oportunidade, mas vai significar renovação. [B]DM[/B] – Essa dificuldade que a base tem de formatar um nome será superada? [b]Lúcia Vânia[/b] – Eu tenho falado muito que nós precisamos fazer um trabalho mais ativo em Goiânia como partido. Do contrário, nós vamos carregar essa dificuldade o tempo todo. Todo trabalho do PSDB é centrado no ex-prefeito Nion Albernaz. Daí para frente, nada foi construído. Então, acho que o partido precisa se estruturar melhor em Goiânia e precisa de uma atuação mais dinâmica. Tanto a câmara como a Assembléia Legislativa precisavam dar visibilidade a uma pessoa que tivesse liderança local. Então, acho que em Goiânia nós temos errado constantemente. A gente acha que somente com o governo é possível ganhar a capital. Eu já disse que é difícil uma pessoa de fora tentar ganhar uma eleição municipal. Uma eleição municipal se faz construindo a base no local. E acho que o PSDB falha enormemente em não ampliar essa base e em não buscar uma atuação mais agressiva. [B]DM[/B] – A senhora tem um trabalho diferenciado na área social. Como a senhora vê essa paralisia nos programas sociais do governo do Estado? [b]Lúcia Vânia[/b] – Acredito que um trabalho social precisar ser muito bem pensado e dirigido. Vejo que há uma cultura hoje de programas de transferência de renda que foi feita de forma indiscriminada, sem fazer um estudo mais profundo das famílias que recebem os benefícios e sem dar oportunidades a essas famílias de se capacitarem. Então, acho que Goiás hoje chegou numa fase em que é preciso dar uma parada e repensar esses programas de forma que eles se tornem mais eficientes e que tenham um resultado mais efetivo. Eu comungo com a idéia de que nós temos que melhorar o desempenho desses programas para que as famílias tenham acesso a outros projetos. E só é possível conseguir isso com acompanhamento e fiscalização. Entendo que os programas sociais não podem ter coloração política. E não pode ter como fim a política. Chega um momento em que, se o programa não é bem controlado, você vai expandindo de tal forma que não é possível beneficiar ninguém. Acaba gerando atrasos. Acaba dificultando para as pessoas que realmente precisam muito. [B]DM[/B] – Os programas sociais em Goiás eram usados de forma eleitoreira? [b]Lúcia Vânia[/b] – Todos os programas sociais têm um cunho eleitoral. Principalmente em época de eleição. É muito difícil você impedir que eles tomem essa característica. Então, é importante que se dê uma parada para ver aquelas pessoas que realmente precisam muito e aquilo que pode ser dispensado e canalizado para outro tipo de programa. [B]DM[/B] – A senhor está em qual torcida: da torcida 'volta Raquel Teixeira para a Secretaria da Cidadania' ou na torcida 'vem Raquel para Brasília'? [b]Lúcia Vânia[/b] – Eu não pertenço a essas torcidas. Eu sempre entendi o programa social e as responsabilidades que se assume como uma situação de fórum íntimo. Quando se define por uma posição, você está sabendo o que faz. E a responsabilidade de permanecer ou de sair é de fórum íntimo. [B]DM[/B] – As razões que levaram a Raquel a deixar o governo foram sensatas? [b]Lúcia Vânia[/b] – Quando falo que se trata de uma situação de fórum íntimo, é porque é difícil de se julgar. Eu precisaria ter uma visão de como é a personalidade dela. Como é o seu histórico e trajetória. Eu não me sinto habilitada para fazer uma análise sobre a situação. Eu sempre achei que a administração dos programas sociais é uma coisa difícil. Tive a oportunidade de trabalhar com o presidente Fernando Henrique. E quando assumi o posto de comando dos programas sociais, a LBA, o Ministério da Ação Social e outros tinham sido extintos. Nós estávamos com todos os programas suspensos e havia todo um desafio que eram cinco mil funcionários e nós ficaríamos com apenas 550. Era preciso fazer a redistribuição desse pessoal e canalizar a mentalidade dos programas sociais para outra direção. Tudo isso é muito penoso e difícil de se fazer. Agora, à medida que você faz, o resultado é bom. Tenho orgulho em dizer que os programas que implantei quando fui secretaria (no governo Fernando Henrique), eles permanecem. Hoje temos a LOAS implementada, que é o benefício do idoso e do deficiente físico, que recebem um salário mínimo. Temos o programa de erradicação do trabalho infantil, mesmo o governo federal não dando apoio ao que foi implementado. Mas esse programa permanece em todos os municípios. O programa social é medido pela eficiência e eficácia das propostas. E é muito complexo porque os resultados não são obtidos a curto prazo. E na área social você trabalha sem recursos. Não conheço nenhuma secretaria de assistência social, seja federal ou estadual, que tenha recursos sobrando.

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