Publicado em 20 Maio 2007
Euclides Oliveira

Mauro Rubem, deputado estadual pelo PT, quer investigações na Celg
Cumprindo atualmente seu segundo mandato na Assembléia Legislativa de Goiás, o deputado estadual Mauro Rubem (PT) esteve em Niquelândia pela primeira vez na tarde de quarta-feira (16), participando de uma reunião do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado (Sindsaúde), da qual é vice-presidente, mantendo diálogos com trabalhadores do setor no município. Numa das brechas do encontro, o parlamentar petista concedeu uma entrevista exclusiva ao Diário do Norte, quando manifestou sua preocupação com as atuais limitações orçamentárias do Governo do Estado, em prejuízo de diversas áreas, como saúde e educação, entre outras, que enfrentam graves crises de gestão. Mauro Rubem citou que os hospitais públicos de Goiânia estão tendo dificuldades até mesmo para alimentar os pacientes que se encontram internados; e mencionou o desperdício de bolsas de sangue doadas pela população, que estão sendo descartadas por falta de kits para o adequado processamento das mesmas. Na educação, Rubem acusa os dois mandatos do Tempo Novo (entre 1999 e 2006, com Marconi Perillo no comando do Estado) de aplicar apenas a metade dos 25% do Orçamento goiano no setor, contrariando a Constituição Federal; e disse que várias escolas estaduais de Goiânia, e do próprio interior, estão abandonadas. Ele defende a instalação de várias Comissões Processantes de Inquérito (CPIs) para a apuração das irregularidades, inclusive em relação ao prejuízo registrado pela Celg, em 2006. Para o deputado, a campanha do governador Alcides Rodrigues – que se reelegeu nas eleições do ano passado – 'vendeu' para o eleitorado a imagem de um Estado que não existia, de fato. "O governo também foi beneficiado por nós mesmos, da oposição, que não tivemos acesso às informações no tempo correto, para que o debate ocorresse de forma transparente e limpa. Isso foi um ensinamento para nós.", comentou o deputado Mauro Rubem.
[b]Diário do Norte[/b] – O senhor é dentista e atualmente ocupa o cargo de vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde do Estado de Goiás (Sindsaúde). Com base nessa experiência, além de sua posição político-partidária enquanto deputado estadual, qual a avaliação que o senhor faz da saúde no âmbito do Governo de Goiás?
[b]Mauro Rubem[/b] – Vejo com muita preocupação. O governo estadual tem deixado a desejar. Estamos com os principais hospitais de Goiânia quase parados, por falta de alimentação, como o HDT (Hospital de Doenças Tropicais) e o HGG (Hospital Geral de Goiânia). O Hugo (Hospital de Urgências de Goiânia) e o Hospital Materno-Infantil também estão com muitas dificuldades. Além disso, as filas estão muito grandes para as cirurgias eletivas. Inclusive, está se perdendo sangue, que é doado pelo povo para o Hemocentro de Goiás (Hemogo), porque esse sangue não está sendo processado por falta de kits para classificar, identificar e fazer a separação de todas as partes que o sangue pode produzir. Inclusive, já colhi 15 assinaturas para a instalação de uma CPI (Comissão Processante de Inquérito) na Assembléia (Legislativa) para investigar a saúde.
[i]É injustificável uma empresa como a Celg ter prejuízo. Ela compra energia da Eletrobrás e não paga.[/i]
[B]DN[/B] – O senhor identificou o que provoca essa situação?
[b]Mauro Rubem[/b] – Eu diria que há uma ausência de Estado, de investimentos do Estado. Nós estamos identificando que não há uma aplicação (de recursos) na ordem de 12% da receita corrente líquida necessária. Existe uma morosidade muito grande, ainda, na estruturação do Sistema Único de Saúde (SUS), de competência da Secretaria Estadual de Saúde, para interiorizar a média e a alta complexidade, além da garantia (dos atendimentos) de urgência e emergência, para sustentar os sistemas-pólo que estão espalhados pelo interior, como em Niquelândia, Uruaçu e Porangatu, por exemplo, que precisam do Estado. O Estado está passando por um momento crítico, necessita do acompanhamento de todas as correntes políticas e nós – eleitos na oposição e eu pessoalmente, que atuo nessa área há mais de 20 anos – entendemos que são necessárias mudanças profundas para que a Saúde goiana chegue a todos nós da maneira que a Constituição garante.
[B]DN[/B] – A crise na saúde é reflexo de qual situação?
[b]Mauro Rubem[/b] – É óbvio que existe uma concepção de saúde que, nos últimos oito anos, vem privilegiando as terceirizações, as precarizações das relações de trabalho e o crescimento (econômico) abaixo do que o povo goiano precisa. Isso ficou ainda mais agravado agora, com a irresponsabilidade dos gastos que foram feitos – de forma eleitoreira viciada e tendenciosa – para grandes grupos econômicos. O Estado se desequilibrou economicamente por conta de fazer benesses e concessões acima do que podia e devia. Com isso, estamos com um déficit corrente entre R$ 1 bilhão e R$ 1,3 bilhão, ocasionando atrasos nos pagamentos e prejudicando o funcionamento dos serviços de interesses da população, como saúde, educação, segurança pública, recuperação de rodovias, entre outros. Fora isso, outros investimentos estão atrasados, como os programas de benefícios sociais Renda Cidadã e o Bolsa Universitária, por exemplo. Mas com a saúde estamos muito preocupados, porque com saúde não se pode esperar.
[B]DN[/B] – A educação no Estado de Goiás enfrenta quais problemas, deputado?
[b]Mauro Rubem[/b] – Nós constatamos a aplicação de apenas a metade dos recursos constitucionais obrigatórios (25%) nesses últimos anos, o que é muito grave. Isso gerou uma situação crítica, em que muitas escolas dentro de Goiânia, não só nos municípios do interior, estão quase que abandonadas. A crise da Universidade Estadual de Goiás (UEG) que ficou em greve por quase 30 dias, instalada no centro de Goiânia. Os educadores, comandados pelo Sintego, continuam em greve. Tudo é reflexo de opções econômico-financeiras que se mostraram equivocadas.
[B]DN[/B] – O que a Assembléia Legislativa está fazendo para investigar esses problemas?
[b]Mauro Rubem[/b] – Está em trâmite junto ao Judiciário o pedido de uma CPI, para ser instalada pelo direito de minoria, que foi apresentado pelo deputado Luís César Bueno (PT). Se o Regimento Interno da Assembléia estivesse adequado à Constituição e se o Judiciário fosse mais ágil, essa CPI já estaria funcionando, para que pudéssemos investigar todo esse descalabro na educação, na saúde e em outras áreas. Nosso papel, enquanto oposição, é investigar, fiscalizar, dentro do espaço democrático que temos na Assembléia, através de audiências públicas, sessões especiais e vistorias in-loco dessas situações. Não para querer achar coisas erradas, mas para comprovar se as coisas estão corretas. Para se ter uma idéia, a Iquego (Indústria Química do Estado de Goiás) produziu, no mês de abril, de 8 a 10% apenas de sua capacidade, por falta de processamento, de gestão, de funcionamento e do pagamento de algumas contas. Estamos notando que as nossas críticas estão surtindo efeito, porque o Estado tem procurado nos responder e mudar as suas práticas.
[B]DN[/B] – De que maneira o senhor recebeu o anúncio sobre a situação da Celg, que apresentou resultados negativos em relação às suas contas do ano de 2006?
[b]Mauro Rubem[/b] – A Celg é uma empresa que está no nosso foco de investigação. Nós entendemos ser injustificável isso, até porque boa parte da energia 'comprada' da Eletrobrás não é paga. Isso precisa ser explicitado. Nós estamos recolhendo material, estudando essa empresa (Celg) para tomar medidas cabíveis para elucidarmos sua situação. A Celg é um patrimônio público, que foi revitalizada após o governo Lula, com o novo modelo energético do país. No entanto, apesar de toda a situação favorável, com o Programa Luz Para Todos, a Celg chega depois de oito anos com um balanço grave e sério. Tudo precisa ser apurado detalhadamente pelo governo do Estado. Essa situação precisa ser do conhecimento da população.
[i]O Diário do Norte cumpre um papel importante, que é mostrar o que acontece no Estado.[/i]
[B]DN[/B] – Com tantos problemas na gestão pública do Estado, que surgiram somente agora, como é que o governo do Tempo Novo conseguiu uma nova vitória nas eleições de 2006?
[b]Mauro Rubem[/b] – O eleitorado foi sugestionado pela grande propaganda. Boa parte desse descontrole financeiro ocorreu com gastos para poder comprar espaços na mídia, de um modo geral, para fazer a propaganda de um Estado que não existia, de fato. O governo também foi beneficiado por nós mesmos, da oposição, que não tivemos acesso às informações no tempo correto, para que o debate ocorresse de forma transparente e limpa. Isso tudo também foi um ensinamento para nós. O que queremos, agora, é aumentar o grau de consciência, de observação e de olhar crítico do eleitorado goiano, para que não ocorram situações como essa, novamente. Estamos vendo até mesmo profissionais de comunicação sendo demitidos por protestar por salários atrasados, porque o Estado não paga suas contas com esses organismos. Vocês, do Diário do Norte, cumprem um papel muito importante em esclarecer essas questões, o que não deve ser visto como uma iniciativa partidária ou política. Quem conhece profundamente a realidade, a transforma. Por isso é que eu acredito em veículos de comunicação que levam as informações com veracidade, como vocês sempre fazem ao povo de Goiás.