Publicado em 22 Março 2010
João Carvalho – Goiânia
Ele tem 53 anos de idade. Desses, 20 dedicados ao marketing eleitoral. Já elegeu muitos prefeitos e vários deputados. Conhece de perto os bastidores da política em Goiás e hoje jura não fazer campanhas de 'sangue', como ele define. Teófilo Luis diz que o segredo de uma campanha de sucesso é o dinheiro e um bom projeto (as bandeiras e propostas), além do profissionalismo. Téo, como é conhecido no meio político, já levou muito cano e não vê problema em um candidato 'invadir' uma região na qual não tem nenhum tipo de relação. Com a proibição dos shows e distribuição de brindes, ele elege o cabo-eleitoral como a força capaz de garantir uma vitória. E vê as igrejas (evangélicas) como forte aliadas, ainda que seja difícil 'fechar' toda uma instituição religiosa, já que a maioria apóia mais de um candidato.
Diário do Norte – O senhor tem quanto tempo no mercado atuando como marqueteiro em eleições proporcionais?
Teófilo Luis (Téo) – Nesse ano de 2010 eu completo 20 anos coordenando e assessorando eleições proporcionais e, no meio do caminho, trabalhando em eleições majoritárias.
DN – Qual o segredo de uma campanha vitoriosa?
Téo – Profissionalismo. Hoje não se faz campanha de forma amadora. E uma campanha proporcional tem dois segredos: recursos e estratégia. Não adianta ter apenas estratégia e faltar dinheiro. Ou vice-versa.
DN – Qual seria uma boa estratégia?
Téo – Bandeira. Candidato precisa ter proposta para apresentar ao seu eleitorado. Outro ponto importante de uma estratégia é mostrar o candidato. Na verdade, durante uma campanha, o candidato acaba se tornando um produto, que deve ser mostrado ao eleitor. Há uma pesquisa nacional em que 85% dos brasileiros querem ouvir a palavra 'honestidade'.
DN – Qual o melhor e principal canal para se mostrar esse produto?
Téo – Depois que foram proibidos os shows, a distribuição de camisetas e brindes para os eleitores, o principal é o cabo eleitoral sério. Eu costumo dizer sério porque voto tem dono e não adianta nada você pegar um pseudo cabo-eleitoral. Esse aliado deve ser um político nato, principal do interior. Deve se buscar o presidente de diretório, o vereador e prefeito. Esses são cabos-eleitorais bons.
DN – A igreja (evangélica) é um bom cabo eleitoral?
Téo – Sim. Desde que ela esteja bem estruturada. E desde que o candidato dê conta de "fechá-la". E não é fácil isso. Hoje com a proliferação de igrejas, quase todas têm mais de um candidato no seu segmento.
DN – O senhor falou que voto tem dono. O que significa isso na prática?
Téo – O voto é da liderança local. De quem está no poder ou de quem está fora do poder, mas na oposição. Esses são os principais. Mas ocorre te outras lideranças terem votos.
DN – O senhor já conseguiu eleger um candidato com uma boa estratégia e sem dinheiro?
Téo – De maneira nenhuma. Os dois andam juntos.
DN – A prática política geralmente não anda de mãos dadas com o que foi prometido. O eleitor é o culpado por essa situação ao se esquecer rapidamente do que lhe foi prometido?
Téo – Infelizmente, o eleitor vive muito o momento. Basta você pesquisar e verá que a maioria não sabe quem foram os candidatos eleitos nas últimas eleições.
DN – Isso é mérito do marketing ou culpa do eleitorado quando ele se esquece do candidato?
Téo – Acho que é mais mérito do marketeiro ou de quem conduz a campanha. Até porque o eleitor anda muito revoltado com a política. E muitas vezes ele vota apenas porque a proposta chegou nele mais rápido.
DN – Corre-se o risco então do marketeiro eleger um candidato que não seja bom para a sociedade e para o seu eleitor? Isso já aconteceu com o senhor ou os seus candidatos são escolhidos a dedo e considerando o aspecto da honestidade?
Téo – Infelizmente, já aconteceu. Até porque como profissional, eu não tenho como escolher. Agora, evidentemente que ninguém tem estrela na testa. Eu já deixei de fazer campanha para pessoas reconhecidamente desonestas e até porque o meu nome estaria envolvido também.
DN – O senhor já tomou muito cano nesse mercado, de candidato que faz a campanha e depois não paga?
Téo – Sim. Infelizmente. Esse é um outro mal nesse mercado. Mas aos poucos a gente vai eliminando esse tipo de situação.
DN – O senhor já elegeu quantos deputados?
Téo – Em 1990 tivemos a campanha de deputado estadual do Sandro Mabel. Não estive tão a frente do trabalho, mas participei. Em 1994 coordenei a campanha de deputado federal do Barbosa Neto. Em 1998 foi a campanha de Luiz Bittencour. Em 2002 do deputado Carlos Alberto Leréia. Em 2006 do deputado estadual Cláudio Meirelles. Este ano estou trabalhando com o deputado Cláudio Meirelles, mas estou aberto a negociações.
DN – Quantos e quais prefeitos o senhor já elegeu?
Téo – Não vou citar nomes aqui, até porque esse trabalho teve início em 1992. Na última eleição eu fiz sete campanhas. Dentre elas a de Itapuranga e a de Confresa, no Mato Grosso.
DN – Qual a previsão do senhor para essa campanha ao governo do Estado em 2010?
Téo – Qualquer análise que se faça hoje sobre essa eleição, nós podemos dar com os burros n´água amanhã. Até o dia 3 de abril podem acontecer muitas mudanças. O prefeito Iris Rezende está num processo de indefinição. E Marconi Perillo está definido. Agora, se o Iris não for candidato, será uma campanha muito ruim para a gente. Até porque será uma campanha de um lado só.
DN – Quanto um candidato a deputado estadual terá que gastar para se eleger?
Téo – Voto tem preço. Para um deputado estadual, que já tenha base eleitoral, ele vai gastar R$ 70 por voto. Isso considerando um candidato num partido maior, onde não se elege com menos de 30 mil votos. Então para se vencer uma eleição nessas condições é preciso gastar R$ 2 milhões. Para deputado federal, já tendo base, não se faz uma campanha competitiva com menos de R$ 6 milhões. E para governador é preciso R$ 100 milhões.
DN – O senhor não sente peso na consciência quando entra numa região com um candidato que não tem nenhuma relação com a região e conquista apoio das lideranças locais?
Téo – Não. Dependendo do candidato, ele pode ter uma relação com a cidade ou região e levar benefícios para lá. O candidato da região tem dificuldade. Veja o exemplo de Porangatu. As pessoas da região imaginam que o candidato de lá só vai levar benefícios para Porangatu e o restante do Norte ficará fora. Por isso, às vezes, ele não tem apoio do eleitor da região.
DN – Há casos nas eleições em Goiás de candidatos que gastaram verdadeiras fortunas e não se elegeram. Porque isso acontece?
Téo – Tivemos um caso na eleição de 2006. Um candidato que gastou quase R$ 6 milhões e obteve 16 mil votos. Nós tivemos em Goiânia um caso de um candidato em 2008 que gastou milhões e teve cinco mil votos. Isso aconteceu porque não foi uma campanha planejada.
DN – Em 1998 houve falha na estratégia da campanha do então imbatível Iris Rezende, já que não faltou dinheiro?
Téo – Primeiro, salto alto do pessoal do PMDB. Até porque ele tinha mais de 70% dos votos. E o Marconi aparecia com 6%. Era uma campanha de um lado só. Isso é ruim porque as pessoas se acomodam. Isso foi determinante para a derrota do Iris.
DN – Qual deve ser a principal estratégia eleitoral numa campanha majoritária? É preciso destruir a imagem do adversário perante a opinião pública?
Téo – Todas as campanhas que faço eu rejeito a campanha de sangue. Inclusive já sai no meio de campanha por esse motivo. O eleitor não quer isso. Ele quer propostas. Quer ouvir o que o candidato se propõe a fazer.
DN – Iris Rezende ameaça deixar a campanha. O que aconteceu? Ele é acostumado ao embate e agora ameaça desistir?
Téo – O PMDB é partido de apenas um candidato. Há muitos anos isso acontece. Eles não prepararam ninguém e ainda expulsaram o Henrique Meirelles da disputa. Combinaram com ele e não cumpriram o acordo. Hoje com a incerteza do Iris, o PMDB está feito uma barata tonta. E hoje temos duas situações que já incorporaram na cabeça do eleitor: o Iris está doente ou está com medo do Marconi. E os candidatos a deputado estão desesperados sem uma referência na chapa majoritária. E acho que dificilmente se alavanca uma candidatura em Goiás num período de 4 meses, com uma volta de Meirelles. Isso serve para a candidatura do governo do Estado, pela Frente Alternativa.
DN – A televisão é uma grande aliada na campanha?
Téo – A TV é um grande palanque de candidatura majoritária. Em relação aos candidatos proporcionais, ele tem mais facilidade de chegar ao eleitor na sua região. Ele não tem que andar em todo Estado.
DN – O que importa no marketing eleitoral é o vale tudo o que não vale é perder a eleição?
Téo – No começo de carreira eu adotei esse estilo. Mas hoje não mais. O eleitor merece votar em alguém de bem. O Brasil precisa disso. O candidato não deve se usar de todos os meios para se eleger, inclusive os escusos. Acho terrível quando um candidato parte para denegrir a família do adversário. Isso é muito triste numa campanha. Na última campanha de governador nós vimos isso.
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