Publicado em 19 Julho 2010
João Carvalho
O deputado Júlio da Retífica será candidato este ano pela quarta vez na sua história política. Duas vezes prefeito de Porangatu e agora pela segunda vez deputado estadual. Sempre pelo PSDB. Ele falou com a reportagem do Diário do Norte e revelou sua preocupação com as pseudolideranças que invadem todas as regiões do Estado, compram lideranças e mandatos e depois não aparecem mais. Júlio diz que o eleitor deve estar preparado para esse tipo de situação. O tucano acredita que apesar de todas as articulações contrárias, Marconi Perillo saiu fortalecido e caminha rapidamente para mais uma vitória. Júlio diz ainda que o Projeto Ficha Limpa foi um avanço, mas que poderia ter estendido seus tentáculos para políticos em outras situações, que cometeram crimes mas não foram alcançados pela lei.
Diário do Norte - O que mudou da campanha de 2006 para esta, de 2010, que está se iniciando?
Júlio da Retífica - Na verdade cada campanha tem as suas características próprias. Desde 1996 que participo de campanha. Tenho trabalhado em todas as campanhas e posso dizer que cada uma tem a sua particularidade. O que nós estamos vendo na atual campanha, de 2010, primeiro foi o desconforto do rompimento da antiga base aliada. Os antigos aliados hoje estão em campos opostos. A gente vê isso hoje com muito pesar. Mas sabemos que em política tudo é possível. Assim, antigos adversários estão compondo com a nossa coligação. São pessoas que no passado estava na oposição e hoje estão conosco. E outros que eram aliados antes, estão na oposição hoje.
DN - O senhor fala em antigos adversários se referindo a partidos ou a pessoas?
Júlio - Partidos e também muitas pessoas. Algumas siglas, no campo estadual, estavam na oposição, mas em algumas cidades estão fechadas com nossa coligação.
O Projeto Ficha Limpa poderia ser mais amplo e atingir pessoas que cometeram crimes e, mesmo assim, estão aptas às eleições
DN - O rompimento de parte da base aliada muda muita coisa na campanha do senhor?
Júlio - Na nossa região nós podemos perceber que o PP continua nos ajudando no sentido de alavancar a candidatura do senador Marconi Perillo. Mas o desconforto existe. Na semana passada nós vimos o candidato ao governo do PR, Vanderlan Cardoso, fazendo campanha e, junto com ele, alguns companheiros que já nos ajudaram no passado. Mas entendemos essa situação porque política tem a sua dinâmica própria e cada campanha tem a sua particularidade. Em relação à nossa região, eu percebo claramente que o eleitor entendeu o esforço que fiz nesse tempo para representar bem a nossa região, que defendi e lutei por ela. Percebo que há, sim, o reconhecimento pelo nosso trabalho. E hoje percebo que houve crescimento na expectativa de votos para nossa candidatura. Hoje todos sabem quem é Júlio e sabem do nosso trabalho e das nossas realizações. Isso está transparente em todas as cidades onde estou atuando. Por outro lado, sabemos que nesse período em que estive na Assembleia foi um período de poucas obras. Algumas demandas não foram atendidas, como o Hospital Regional do Norte. Mas todos sabem do nosso empenho pessoal em conquistar esses benefícios. Todos sabem que não faltou o nosso trabalho. Isso é importante. E eu defendi e defendo que o Norte merece um tratamento diferenciado por parte do governo. Trata-se de uma região diferente e o tratamento deve ser diferenciado. Temos mais necessidades e ainda há muitas carências. Por outro lado tivemos a construção da Ferrovia Norte-Sul, uma obra que certamente vai marcar e se consolidar num fator positivo para o Norte.
DN - O senhor falou do reconhecimento do eleitor em relação ao seu trabalho. O eleitor está preparado e entendeu que é importante eleger candidatos ligados ao Norte?
Júlio - Nós percebemos algumas pseudolideranças e outros com mandato atuando na região. Essas pessoas focam no seu benefício próprio e deixam de atender as necessidades da região. Tenho visto isso. São pessoas que não têm nenhuma tradição na região e nem no Estado e vão buscar o voto fora da região deles. Até porque na sua região ele não tem mais condições de receber o voto. E também há pessoas que estão entrando agora. Que não sabem que política é sacerdócio, que exige dedicação de você durante 24 horas. Você tem que estar 24 horas à disposição das pessoas, em situações que às vezes não cabe a você resolver, mas o político acaba sendo demandado a resolver os problemas do cidadão. Política é assim: você acaba exercendo o papel de médico, de psicólogo, sacerdote, enfim, essa é a função do político. Muitos entram por vaidade, em busca de um título. São pessoas que levam uma vida muito diferente daquela que se exige de quem é político. Esse neófito na política entra na campanha com muito dinheiro, comprando lideranças e sem nenhum compromisso com a região. Essa pessoa se elege e depois não tem compromisso com a região. É o político que compra o seu mandato. E depois ele não tem mais paciência para atender as pessoas, como nós temos atendido.
DN - Em relação ao senador Marconi Perillo, em 1998, 2002 e 2006 ele disputou com a base unida. Agora ele não conta com 100% dessa unidade. Quais os riscos e as chances nesssa eleição?
Júlio - Primeiro, dos grandes partidos que apoiaram o Marconi em 1998, somente o PP não está junto agora. Em 1998 tínhamos o PSDB, DEM, PTB e PP. Desses, apenas o PP não está mais na coligação. Vejo que das lideranças políticas relevantes daquela eleição, praticamente só o governador Alcides Rodrigues deixou essa base. Hoje temos lideranças do PP que lutaram para que o partido continuasse com o Marconi. Sabemos que essa eleição será difícil. Não restam dúvidas quanto a isso. Mas, apesar de todo trabalho para desconstruir a imagem do senador Marconi, ele conseguiu aglutinar praticamente todas as forças que o ajudaram nas eleições de 1998. Em campanhas sempre há as defecções. Isso faz parte do jogo. Mas vejo que Marconi hoje tem uma interlocução muito forte com o eleitor. Em Porangatu, por exemplo, ele não precisa do prefeito, do deputado e de ninguém. O eleitor tem um canal direto com ele. Todos procuram ele independente das lideranças que estão apoiando ele. Acredito em vitória no primeiro turno.
DN - O Projeto Ficha Limpa exagerou na dose ou o caminho para se oxigenar a política no Brasil é esse mesmo?
Júlio - Acho que o Projeto deveria ter sido mais amplo. Muitas situações poderiam ter sido alcançadas por essa nova lei, o que poderia inibir candidaturas. Estou vendo pessoas que cometeram crimes e que, infelizmente, não foram atingidas pelo lei. Agora, esse foi um passo importante. Muitos que cometeram crimes eleitorais vão ter, a partir de agora, novas possibilidades de serem penalizados.
DN - Qual o melhor caminho para se resolver a crise na Celg?
Júlio - A Celg é uma empresa viável. Eu já disse isso outras vezes. A Celg, no entanto, precisa desse recurso que está sendo articulado pelo governo do Estado junto ao governo Federal. A Celg precisa desse investimento. Até porque o Estado de Goiás tem crescimento acima da média. E quando isso acontece é preciso ter financiamento para esse desenvolvimento. O governo do Estado e as prefeituras não dão conta de financiar esse crescimento acelerado. E às vezes por falta de recursos, ela deixou, em algumas situações, de fazer os investimentos. Investir na Celg não é fazer nenhum favor. A Celg precisa desse investimento por ser uma empresa viável, que tem condições, sim, de se sustentar e fazer os investimentos. Mas hoje a empresa precisa de uma injeção de capital. Ela tem condições de sair dessa crise e espero que resolva isso o mais rápido possível.
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