Publicado em 29 Julho 2007
Euclides Oliveira - Niquelândia
euclides oliveira

Reinhold Stephanes com o prefeito Ronan Batista, em Niquelândia: visita de cortesia e apoio à festa
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, concedeu uma entrevista com absoluta exclusividade à reportagem do Diário do Norte, na noite de sexta-feira (27), numa luxuosa pousada localizada na região do Povoado Indaianópolis, distante 35 quilômetros da área central de Niquelândia. No local, onde se hospedou, o ministro aplaudiu, de pé, a apresentação da Orquestra Sinfonia do Cerrado, patrocinada pela mineradora Anglo American; e participou de um jantar reservado, oferecido pelo prefeito Ronan Rosa Batista (PTB). Ele chegou ao município numa Van, por volta das 18 horas, quando posou para fotos no pórtico de entrada da cidade, juntamente com Ronan, vereadores da bancada de apoio; e secretários do Poder Executivo. Aos 67 anos, Stephanes é deputado federal licenciado pelo PMDB/PR, atualmente em seu sexto mandato. Economista, assumiu a pasta da Agricultura no final de março, a convite do presidente Lula, credenciado por ter atuado como ministro do Trabalho e Previdência Social; e da Previdência e Assistência Social, em governos anteriores. O ministro aceitou o convite de Ronan para conhecer as potencialidades turísticas de Niquelândia, aproveitando para pescar no Lago Serra da Mesa; e também para visitar a 14ª Exposição Agropecuária da cidade, o que estava programado para ocorrer na noite de sábado (28). No mês de junho, o prefeito foi recebido em audiência por Stephanes no Ministério da Agricultura, em Brasília, quando obteve a liberação de uma verba de R$ 150 mil para os festejos. Na conversa com o DN, falando sobre a política agrária no Brasil, Stephanes mostrou-se preocupado com a queda no preço do dólar; assinalou que a redução da taxa de juros anunciada pelo governo no último dia 19 ainda não é a ideal para fomentar a produção agrícola no país; e animou-se ao falar da previsão de colheita recorde para a safra de grãos, neste ano. Questionado sobre a existência de planos da pasta específicos para o Norte Goiano, o ministro disse que não há um direcionamento nesse sentido, oportunidade em que também descartou a viabilização de usinas de álcool e de biodiesel na região. "Isso depende muito da topografia. Para a soja, sabemos que nesta região há vários pólos. O que falta para a melhor plantação de soja por aqui é uma melhor infra-estrutura. A plantação de cana precisa de áreas mais planas, que precisam ser mecanizáveis; e também há problemas na logística de transporte", afirmou o ministro.
[b]Diário do Norte[/b] – A que se deve a presença do senhor em Niquelândia? Trata-se de uma visita de cortesia ou oficial, considerando a liberação de recursos por parte do Ministério da Agricultura para a exposição agropecuária da cidade?
[b]Reinhold Stephanes[/b] – Trata-se de uma visita de lazer, de final de semana, junto com alguns amigos, com a minha esposa, e com o meu cunhado que mora em São Paulo, mas que também gosta muito de pescar. Eu sou um pescador. Há mais de 40 anos, eu pesco aqui no interior de Goiás. Só nesse Entorno de Brasília, num raio de 200 quilômetros, contei ter pescado em 12 rios. Além disso, também sou grande fã do Rio Araguaia, onde também pesco há quase 40 anos. Esse ano já estive no Araguaia. E eu ainda não conhecia Serra da Mesa.
[B]DN[/B] – De que maneira o Ministério da Agricultura pode ajudar uma cidade como Niquelândia?
[b]Stephanes[/b] – O Ministério da Agricultura não ajuda especificamente os municípios, mas trata das diretrizes da política agrícola como um todo. Acho que até está desempenhando um bom papel neste sentido. Agora, eventualmente, quando alguns municípios têm projetos específicos, o ministério pode analisar e dar uma ajuda. Ou, ainda, através de emendas dos deputados que fazem para atender seus municípios. Fora isso, a linha de atuação do ministério ocorre dentro de uma política nacional agrícola.
[B]DN[/B] – Na avaliação do senhor, a crise no campo já passou no Brasil?
[b]Stephanes[/b] – De maneira geral, o desempenho da agricultura é muito bom, tanto que o Brasil é o maior exportador de carnes que temos hoje no mundo; o segundo maior exportador de grãos; e também o primeiro maior exportador de energia limpa, através do álcool; e possivelmente, no futuro, através do biodiesel. Agora, neste momento, as expectativas são boas. O mundo está crescendo em termos econômicos, a uma taxa de 5% ao ano, mais ou menos. É um dos melhores crescimentos dos últimos 100 anos. Foram raros os momentos em que o mundo teve um período de crescimento longo, nesse patamar. O último grande fato ocorreu entre 1970 a 1975. Foram só cinco anos, interrompidos pela crise do petróleo. Mas, nesse momento, nós tivemos o início de um círculo de crescimento no mundo, desde 2002. Já estamos em 2007 e as projeções ainda são boas para os próximos anos. Isso vai levar a uma conseqüência muito positiva, ou seja, o aumento do consumo de produtos agrícolas. À medida que a renda cresce, principalmente nos países em desenvolvimento, com a China, a Índia e a Rússia. Havendo isso, há um aumento de demanda e, consequëntemente, nos preços dos produtos agrícolas. E isso é bom para o Brasil, que é um grande exportador. A outra razão, também, é que o mundo começa a entrar nessa idéia da energia limpa. Boa parte das áreas agrícolas americanas que já produzem álcool à base do milho; e na Europa, que produzem o álcool à base de alguns outros produtos, inclusive do trigo; começam também a demandar mais produtos para a alimentação, com o Brasil tendo uma grande vantagem. Nós temos perspectivas muito positivas para o futuro, não obstante ainda termos problemas de endividamento na área rural, que estão sendo tratados e equacionados pelo governo.
[B]DN[/B] – Qual a influência da queda no valor do dólar na crise vivida pelo setor?
[b]Stephanes[/b] – A queda no dólar é, efetivamente, o grande problema. Não apenas para a agricultura, mas para vários outros produtos industriais brasileiros. Mas, principalmente, para aquela agricultura que depende muito de exportação. Isso constitui-se num problema e, neste momento, nós temos é que torcer para que esta queda não continue e para que haja perspectiva de aumento (da cotação da moeda americana). O nosso ministro da Fazenda (Guido Mantega) tem demonstrado essa preocupação e as dificuldades de intervir, já que o dólar tem um câmbio flutuante, as condições brasileiras são muito boas, e também há muito dinheiro sobrando no mundo. E esse dinheiro tem que ser canalizado para alguns lugares. E o Brasil é um desses lugares para onde vem sendo canalizado esse excesso de dólares no mundo. Isso, evidentemente, traz conseqüências absolutamente positivas em termos de investimentos no Brasil; mas também traz conseqüências negativas exatamente dentro do setor exportador, e dentro dele, para a agricultura.
[B]DN[/B] – Os produtores rurais sempre pedem a criação de uma política agrícola clara para o Brasil. O que falta para isso acontecer?
[b]Stephanes[/b] – Veja bem. A política agrícola é clara. Ela existe, não é nova, vem se aperfeiçoando. Mas, possivelmente, o que o setor agrícola precisa é uma queda de juros maior do que nós tivemos agora (de 12% para 11,5% ao ano na taxa Selic, anunciada no último dia 19 pelo Banco Central); uma melhor garantia de renda; de mercado; e de preços, o que é importante; e, principalmente, uma política anti-cíclica para se evitar os problemas climáticos, que têm sido um dos maiores problemas do nosso agricultor. Estamos tratando dessa questão. Mas até que isso possa ser implantado, no Brasil, nós podemos contar um prazo de quatro a cinco anos, para uma condição estrutural, com efetividade.
[B]DN[/B] – Qual a expectativa do ministério para a colheita da safra de grãos neste ano?
[b]Stephanes[/b] – A safra está muito boa. Neste ano, estamos batendo um recorde (130,7 milhões de toneladas - 11,8% a mais do que em 2006 - segundo dados do IBGE). Os preços no mercado internacional também estão bons, compensando em parte a queda do dólar. Se não fosse isso, nós estaríamos numa crise muito grande, efetivamente. A expectativa, para o próximo ano, é que as condições - pelo menos com relação ao preço e demanda do mercado internacional - sejam crescentes. Em conseqüência disso, nós podemos ter uma nova perspectiva, muito boa, de plantio para a safra 2007/2008.
[b]“O QUE FALTA PARA A MELHOR PLANTAÇÃO DE SOJA NESSA REGIÃO É UMA MELHOR INFRA-ESTRUTURA”[/b]
[B]DN[/B] – De que forma o governo Lula pode ajudar mais o produtor? O governo está no caminho certo?
[b]Stephanes[/b] – Eu acho que sim. As condições para essa safra 2007/2008 são boas. A renegociação das dívidas também se apresentou numa condição boa. O mais importante é que haja mercado e preço em relação à esses produtos. Até agora, as perspectivas são boas para o preço de vários produtos, como carnes, sucos, como da soja, do milho. Enfim, a área do açúcar e do álcool também têm perspectivas boas, sem dúvida nenhuma.
[B]DN[/B] – Que tipo de recomendação o senhor, enquanto ministro, pode dar ao produtor? Se ele plantar o governo vai garantir preço mínimo e facilidades para obtenção de linhas de crédito?
[b]Stephanes[/b] – A facilidade para a obtenção de linhas de crédito já existe; há garantia de preço para vários produtos; e a garantia de sustentação de preços já está lançada. Eu sei que ela não atende todas as necessidades dos produtores, mas neste ano será melhor do que no ano passado, que também foi melhor do que no ano anterior (2005). Se as condições climáticas forem boas, as perspectivas também serão boas.
[B]DN[/B] – De que forma o senhor entende ser possível conciliar a produção de cana-de-açúcar com o respeito ao meio ambiente?
[b]Stephanes[/b] – Essa é uma grande preocupação do governo, tanto que a expansão da cana-de-açúcar será proibida em biomas como o Pantanal, o bioma amazônico, e em outros que estamos estudando. Mas existem vastas áreas, principalmente de pastagens degradadas, que podem ser utilizadas para expansão. Quando nós olhamos a dimensão do Brasil - que possui mais de 300 milhões de hectares à disposição para a pecuária e para a agricultura - mesmo com toda a expansão prevista para os próximos dez anos, não vamos precisar mais do que 10 milhões de hectares. Ou seja, são apenas 3% da área disponível hoje. Portanto, há possibilidades de compatibilizar a ocupação de novas áreas com as questões ambientais.
[B]DN[/B] – Para o Norte de Goiás, tão próximo de Brasília e ao mesmo tão pouco desenvolvida, em comparação às demais regiões do país, o que poderia ser feito pelo ministério?
[b]Stephanes[/b] – Veja bem. Não há uma política específica para o Norte de Goiás. Como eu disse na primeira pergunta, há linhas gerais para toda a agricultura nacional. Agora, de qualquer forma, a região do cerrado tem tido um progresso nos últimos 10, 15 anos. A grande expansão da agricultura brasileira se deu exatamente nessas regiões. Nós até conversamos com o prefeito (Ronan). "É possível estabelecer uma usina de álcool aqui nesta região?" Bom, depende muito da topografia. Para a soja, sabemos que nesta região há vários pólos. O que falta para a melhor plantação de soja nessa região é uma melhor infra-estrutura. Ou seja, transportar essa soja para os grandes centros, por distâncias muito longas e em estradas que não boas, se perde renda com isso, evidentemente. E o mesmo problema possivelmente se terá com relação à plantação de cana, para o estabelecimento de usinas nessa região. Precisam de áreas mais planas, precisam ser mecanizáveis; e também há esse problema de logística de transporte.
[B]DN[/B] – O biodiesel é uma alternativa viável ?
[b]Stephanes[/b] – Para o Brasil, sim. Mas, possivelmente, ainda não seja para esta região.