Publicado em 20 Outubro 2008
João Carvalho - Goiânia
A eleição em Aparecida de Goiânia revelou inúmeras surpresas. A vitória de Maguito Vilela sobre o veterano Marlúcio Pereira foi uma delas. Na disputa pela Câmara Municipal, mais novidades. A maioria dos atuais vereadores ficou de fora, especialmente a turma que fez turismo com dinheiro público. Por outro lado, um também veterano em campanhas (foram quatro só para vereador e uma para deputado estadual), Assis Brasil, cansou de 'bater na trave' e, finalmente, chegou ao pódio, com uma votação expressiva (2.214 votos). Em sua primeira entrevista ao Diário do Norte, ele evita dar notas para a atual legislatura, aposta no sucesso da gestão de Maguito Vilela, garante que fará um trabalho fragmentado em várias frentes e destaca que está pronto para ser o presidente da câmara.
Diário do Norte – O senhor disputou cinco eleições e, finalmente, conquistou um mandato. O que foi determinante para que o senhor chegasse à vitória, considerando as dificuldades financeiras?
Assis Brasil – Primeiro lugar a questão da perseverança. Quando você tem um objetivo de vida, você também tem um objetivo prático do que você deseja fazer. Sempre fui um militante político, seja partidário, sindical ou associação. E sempre tive êxito em todas essas atividades. A política depende muito da questão financeira. Mas, depois de tantas tentativas, nós observamos que diante de um bom planejamento é possível atingir os objetivos e chegar à vitória. Então, enquanto muitos candidatos tinham dinheiro, eu tinha uma coisa que poucos tinham, que é o capital humano. E isso é que fez a diferença na nossa campanha, quando trabalhei com pessoas capazes e habilitadas. Também contei com pessoas que pudessem acrescentar alguma coisa à nossa campanha. Com todos esses segmentos, sempre deixei claro que tinha um objetivo definido: cuidar de uma região e cuidar de Aparecida.
DN – O senhor falou que a eleição é um objetivo de vida. Agora que o senhor conquistou esse objetivo, o que a população de Aparecida pode esperar do senhor?
Assis – Ninguém atinge um objetivo de vida. Isso é prática permanente. Hoje é o primeiro passo de um cidadão que acaba de ser eleito. Mas diante disso, tivemos uma porta que se abriu para novas lideranças. Além de ter um objetivo de vida, evidentemente que é preciso uma militância. E eu tenho uma militância com crianças e adolescente de muitos anos. Trabalhei durante muito tempo no Goiânia Esporte Clube. De lá também nasceu a idéia de fazer a Secretaria de Esportes de Goiânia e também de Aparecida. Então, naquele momento começou a minha carreira, com um trabalho social, que se converteu em votos. Assim, foi o início da minha militância política. E a militância social também se mantém.
DN – E o que o eleitor pode esperar do senhor?
Assis – Primeiro, a forma de fazer política. Temos de pensar que Aparecida não é mais um feudo. Aparecida é uma das maiores cidades do País. Em estados como São Paulo e Paraná, cidades do tamanho de Aparecida não têm um IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tão baixo. Então, é preciso a presença maciça do poder público. E nós temos percebido que hoje o poder público dá prioridades para as indústrias e grandes empresas, em detrimento das pessoas que estão em Aparecida. Hoje nós temos uma cidade que não é mais de retirantes. Os moradores são nascidos na cidade e têm vínculos com a cidade. A realidade hoje é que a cidade está crescendo internamente. Isso significa que o município precisa de uma política habitacional séria. Lá não temos uma política sobre saneamento básico. E a política voltada para crianças e adolescentes, está totalmente fora do que poderia ser feito. E o que o povo de Aparecida merece e precisa: de homens sérios e honestos. Isso não significa dizer que as pessoas que estão lá hoje não sejam sérias e honestas. Mas podemos melhorar.
DN – O senhor quer dizer que os vereadores de Aparecida são sérios e honestos mas não têm ação?
Assis – Pode ser ou não. Eu não conheço a realidade da Câmara Municipal. Mas penso que falta identificação maior com o povo.
DN – O senhor fala que os vereadores são sérios, mas é possível entender que eles são sérios fazendo turismo com dinheiro público?
Assis – Na verdade, até mesmo poderiam dizer que a Câmara de Aparecida é um cavalo de Tróia. E as mudanças aconteceram nos dois poderes, tanto é que só se reelegeram seis vereadores.
DN – O senhor acha que esse número poderia ser maior?
Assis – Poderia ser maior. Mas aí nós temos um problema. A questão do dinheiro em Aparecida ainda é premente. Isso só vai mudar quando não tivermos mais o instituto da reeleição. E também quando o dinheiro não influenciar tanto na campanha. Aí, sim, nós teremos uma sociedade mais justa.
DN – Houve influência do poder econômico em Aparecida?
Assis – Penso que sim. Mas não posso precisar a dimensão. Quando se está numa campanha, a gente fica muito focado no próprio trabalho. Mas a gente também percebe no decorrer da caminhada, quando se é suprimido pela força do dinheiro. Agora, quando se tem um trabalho realizado com antecedência, o eleitor já está preparado para enteder a sua mensagem.
DN – O grupo político que está no poder hoje já tem mais de 20 anos em Aparecida. Qual o futuro desse grupo?
Assis – Vai depender muito da gestão do Legislativo e também do futuro prefeito. Não temos sinais de que vá se perpetuar um novo feudo em Aparecida. Mas penso eu que surgirão novas lideranças nesse período. A minha própria eleição foi uma surpresa, especialmente porque não faço parte de um grupo político. Não faço parte de uma familiocracia e muito menos faço parte de grupo que detém poder financeiro.
DN – Esse grupo vai acabar, considerando uma administração de sucesso do prefeito eleito Maguito Vilela?
Assis – Nesse momento de eleição não é possível fazer um juízo de valor do que pode acontecer. Creio que essas mudanças vão permanecer. Mas os resíduos de um processo político não se acabam facilmente. Se eles se mobilizarem, evidentemente terão um espaço para ocupar. É complicado falar que esse ou aquele grupo vai se dissolver. Mas a população de Aparecida teve uma ótima oportunidade para que as pessoas que se elegeram façam um bom trabalho.
DN – O senhor não fez parte de nenhum grupo. Mas a partir de agora, o senhor vai entar para qual grupo, do prefeito eleito Maguito Vilela?
Assis – Estou no Legislativo, que é um poder diferenciado do Executivo. Mas, na medida do possível e para atender os anseios do povo, estarei com o prefeito. Nós fomos aliados na campanha, mas apoiarei ele quando atuar em favor do povo.
DN – O senhor é candidato à presidência da câmara?
Assis – Estou à disposição do partido, da coligação e não fugirei de jeito nenhum se o meu nome for indicado para esse cargo. Não tenho medo de enfrentar o poder. Se for do interesse da população, realmente estarei no páreo.
DN – O senhor vê feudo no atual grupo que está no poder em Aparecida. Mas não vê também entre Iris Rezende e Maguito Vilela, que estão sempre se sucedendo de alguma forma no poder?
Assis – Não vejo dessa forma. Cada eleição tem uma particularidade. Não vejo criação de um feudo. E eu não faço parte do grupo do Maguito.
DN – Mas o senhor apoiou a candidatura dele.
Assis – É verdade. E pela mudança. Agora, tudo vai depender da gestão do Maguito. Se ele for bem, pode voltar para mais quatro anos.
DN – O governador Alcides Rodrigues teve responsabilidade pela derrota do grupo que hoje está no poder em Aparecida, considerando que o vice-governador é do PR?
Assis – O governador teve uma participação interessante nessa campanha. O líder do PP em Aparecida foi o deputado Ozair José. E esse processo foi conduzido pelo presidente do partido (Sérgio Caiado). E o governador não teve interferência direta no partido, que teve autonomia nesse momento.
DN – Que nota o senhor daria hoje à Câmara de Aparecida?
Assis – Olha eu não daria uma nota hoje. Isso porque diante de tantas mazelas com essa gestão, temos que chegar lá para formar um verdadeiro juízo de valor. Sem dados nas mãos, ficaria ruim eu fazer essa valoração de juízo.
DN – A sociedade já deu a nota dela, apresentada nas urnas. O eleitor vai entender essa posição do senhor?
Assis – Sim. A própria sociedade deu essa nota. E acho que a sociedade vai entender a minha posição. Até porque a nossa campanha foi feita com base em idéias e sem querer olhar para o retrovisor. O eleitor mesmo disse que não queria saber o que aconteceu anteriormente. Olhando no retrovisor não é possível vislumbrar lá na frente.
DN – Em que área o senhor vai atuar mais?
Assis – Vereador tem que ser do município. Não pode segmentar a atuação. Evidentemente, já tenho uma linha de conduta. Sempre tive uma preocupação em relação à criança e o adolescente. O poder público pode trabalhar o menor. Assim podemos evitar, no futuro, de punir os adultos. Atuar para ajudar as crianças e adolescentes é básico.
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