Publicado em 22 Outubro 2018
João Carvalho
Tucano de quatros costados, o deputado Helio de Sousa avalia os efeitos do resultado das eleições em Goiás e diz que, apesar da derrota, nem tudo está perdido. “A hora agora é de deixar a poeira baixar e não tomar decisões precipitadas. Nossas lideranças não acabaram”, argumenta. Helio sustenta que a derrota em Goiás tem explicações. Ele aponta duas: os 20 anos de poder desse grupo político e os efeitos da Operação Cash Delivery, da Polícia Federal, faltando dez dias para as eleições e que resultou na prisão de Jayme Ríncon, ex-presidente da Agetop. Helio descarta disputar as eleições de prefeito de Goianésia daqui a dois anos e revela o seu voto no segundo turno: vai votar em Bolsonaro. No primeiro turno ele foi de Geraldo Alckmin. Sensatez e ponderação, como sempre, são as marcas desse deputado, que não tem medo de colocar o dedo na ferida.
Diário do Norte – Como explicar o resultado das eleições de 2018 com essa derrota impressionante e inesperada da base aliada do Governo?
Helio de Sousa - Entendo que houve uma manifestação prevista. No caso específico do PSDB de Goiás, que ficou praticamente 20 anos no poder, isso tem um custo. Chega um momento em que a população quer mudanças. Esse sentimento de mudanças fez com que, lamentavelmente, nós tivéssemos esse resultado, apesar de entender que a gente tinha um candidato que estava preparado para dar continuidade ao trabalho que vinha sendo feito. Esta é a primeira leitura, que já estava bem delineada. E culminou com um episódio (Operação Cash Delivery) que, de uma maneira ou outra, atingiu todo o PSDB. Esse episódio ocorreu de uma maneira preocupante, há dez dias antes das eleições, e atingiu nosso candidato a senador (Marconi Perillo). Os fatos se acumularam e levaram a essa derrota de uma maneira geral. Nós, lamentavelmente, perdemos muito já que tínhamos uma expectativa grande de vitória em todos os níveis. Mesmo na disputa ao Governo nós trabalhávamos com a hipótese de segundo turno. Também esperávamos as vitórias de Marconi e Lúcia Vânia no Senado, além da eleição de uma grande bancada, o que não aconteceu.
DN – Faltou sensibilidade por parte dos dirigentes da base para perceber e entender esse movimento do eleitor?
Helio de Sousa- Esse fato de 20 anos de poder é para se comemorar pelo legado que fica. As mudanças que Goiás teve nesses 20 anos. Ninguém pode deixar de reconhecer isso. Saímos de um PIB de R$ 17 bilhões em 1998 para um PIB superior a R$ 200 bilhões. Mas não é só isso. Tivemos conquistas na área da saúde com os hospitais que foram construídos. E a educação, área onde existe uma grande cobrança, mostra que o foco na gestão com a educação foi o Estado que mais avançou, considerando a avaliação do IDEB. Isso mostra que o Estado ia bem. Mas o peso de 20 anos de poder tem uma importância grande e levou a esta insatisfação, que é legítima por parte do eleitor, mas que sobrou para quem estava no poder, que somos nós.
DN – O PSDB, goiano e o nacional, saiu dessas eleições menor do que entrou. O que deve ser feito para o PSDB não se tornar um partido nanico?
Helio de Sousa - Primeiro, o PSDB tem história. Eu sou novo no PSDB, mas sempre estive ligado com ele, em 2002, 2006. Acompanhei todas as candidaturas da legenda nas eleições locais e nacionais, até porque o meu partido anterior era aliado do PSDB. Aconteceu o que acontece com qualquer partido, em algum momento você é derrotado. Quando isso ocorre, você não deve fazer nada precipitado. Agora é hora de deixar a poeira baixar. E temos que dar tempo ao tempo. As nossas lideranças não acabaram e vamos fazer o que deve ser feito. Se tiver que mudar o comando da sigla, que se faça, mas não agora. Temos que esperar o momento oportuno e buscar, através do entendimento, alguém que dê condições de manter a liderança e nos organize. Nós temos condições, como já fizemos no passado, de fazer grandes gestões. Vejo que o passado do PSDB foi grandioso, o presente é nebuloso, mas o futuro poderá ser promissor. Se entendermos que erramos, localizar esse erro, e repará-lo. E com dignidade, baseado no alicerce que foi construído, buscar um futuro melhor, não para o partido, mas para os municípios e o País.
DN – O senhor entende que a direção do partido em Goiás teve culpa pela derrota?
Helio de Sousa - Independente de quem estivesse lá, aconteceria esse resultado. Igual aconteceu o apagão da Seleção Brasileira na Copa de 2014 com o resultado de 7 x 1. Independente do técnico, o resultado foi aquele.
DN – O PSDB de Goiás tomou um 7 x 1 então?
Helio de Sousa - Com certeza. Foi uma derrota que ninguém previa. Tivemos líderes importantes que não foram reeleitos. A nível federal tivemos perdas importantes de pessoas que demonstravam uma boa liderança. E a nível estadual também observamos perdas importante. Temos que nos reerguer novamente, valorizando aqueles que fizeram história e buscando abrir espaço para quem queira ajudar a reconstruir o PSDB.
DN – Qual será a postura na Assembleia a partir do próximo ano, já que o senhor estará na oposição. O senhor fará oposição agressiva ou mais suave?
Helio de Sousa - Cada pessoa tem a sua personalidade. Eu tenho a minha. Tenho posição definida. A população decidiu que eu serei da oposição, então serei da oposição. Sempre respeito quem está no poder, mas vou trabalhar de maneira dura para mostrar o que está errado com críticas construtivas. É o que vou fazer. Já estive na bancada da oposição em 1995 e 1996. Estarei defendendo o Estado. Onde eu puder contribuir de uma maneira civilizada, estarei exercendo meu mandato. Nós deixamos de ser governo e agora é hora de mostrar o que é melhor para Goiás.
DN – Daqui a dois anos o senhor pensa em uma nova eleição?
Helio de Sousa - Não trabalho com essa hipótese. Hoje eu tenho uma representação com lideranças importantes em mais de 60 municípios de Goiás que de uma maneira ou outra eu vou ajudar nas eleições municipais. E mais do que isso, temos grandes lideranças na cidade. Sempre tivemos grandes candidatos. E no momento oportuno, vamos colocar esse candidato para que a gente possa voltar a administrar Goianésia, que ao longo de sua história sempre teve governo vinculado ao nosso grupo político, que é uma herança de Otávio Lage, nosso símbolo maior.
DN – O cenário para 2020 será mais complicado, considerando que agora o PSDB está na oposição?
Helio de Sousa - Quem ganha a eleição são os candidatos e não os partidos. O grupo político é quem leva à vitória. Então, o fato de termos, a nível de estado, um governo que seja oposição, não vai nos impedir de ganharmos as eleições. Ganhamos em 1982 e 1988, perdemos em 1992, ganhamos em 1996, 2002, 2004. Perdemos em 2008 e ganhamos em 2012. E perdemos em 2016. Então, independente de quem esteja no governo, isso não nos impede de vencermos as eleições em Goianésia. Quem ganha é o candidato e o seu grupo. Vamos buscar a vitória com candidatos competitivos.
DN – Helio de Sousa é Haddad ou Bolsonaro?
Helio de Sousa - Eu era Geraldo Alckmin. E o que está aí agora, eu sou Bolsonaro.
DN – Quais as cidades o senhor conquistou as votações mais expressivas e porque isso aconteceu?
Helio de Sousa - Tive a oportunidade de ser o mais votado em sete cidades. Mas em duas delas para mim são simbólicas. Primeiro em Buriti Alegre, onde conquistei 45% dos votos. É gratificante porque é o reconhecimento da cidade onde eu nasci e de onde eu mudei há 55 anos. É sinal de que estou trabalhando em defesa dos meus conterrâneos. Para se ter uma noção, eu tive 2.308 votos e o segundo colocado teve pouco mais do que 500 votos. E a outra vitória foi na cidade que simboliza toda a minha vida profissional e política, que é Goianésia. Apesar de disputar com grupos fortes. Tinha três adversários bem representativos. Tinha o candidato do prefeito, o candidato do MDB e um candidato que fez campanha solo muito competitiva. Apesar de todas essas adversidades, eu tive uma resposta positiva na minha cidade, que me deu uma vitória consagradora. Onde eu morei e marquei minha vida, em Buriti Alegre e Goianésia, foi gratificante. Em Goiânia também eu dobrei os meus votos em relação a 2014. É sinal de trabalho e de reconhecimento daqueles que me conhecem.
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