Publicado em 26 Setembro 2014
Euclides Oliveira
A dona de casa Marcelina Coelho Martins dos Santos, de 44 anos, foi presa em sua residência por volta das 11 horas da sexta-feira (26) no Setor Belo Horizonte, em Niquelândia, por agentes do Grupo de Investigação de Homicídios (GIH) liderados pelo delegado Cássio Arantes do Nascimento, em cumprimento de mandado de prisão temporária expedido pelo Poder Judiciário local. De acordo com a autoridade policial, a mulher é a principal suspeita de ter matado o próprio marido, o professor de solda da Unidade Integrada Sesi-Senai, Rui Domingos dos Santos, de 49 anos. Desaparecido há 16 dias - desde a noite do domingo (7) – o educador foi encontrado morto por volta das 21h30 da quinta-feira (25), enterrado numa cova rasa em área de matagal distante 1.700 metros do acostamento da rodovia GO-132 (Niquelândia/Colinas do Sul), a dez quilômetros do entroncamento com a rodovia GO-237 (Niquelândia/Muquém). O corpo, no entanto, só foi retirado do local por volta das 9 horas da sexta-feira (26) pelo Instituto Médico Legal (IML) de Uruaçu depois que peritos do Núcleo da Polícia Técnico-Científica (NPTC), também de Uruaçu, fizeram os levantamentos preliminares de praxe. Cássio informou que o cadáver tinha pelo menos quatro ferimentos provocados por instrumento pontiagudo – possivelmente de uma tesoura de costura, encontrada ao lado do professor assassinado. O mistério sobre o sumiço de professor caiu por terra quando o filho do casal - Rômulo Henrique Domingos dos Santos, de 27 anos – que era conhecido em Niquelândia pelo pseudônimo “Worlock” – mandou uma mensagem de texto no celular do seu tio informando a exata localização do cadáver. “Está difícil segurar esse fardo”, disse o rapaz, na SMS mostrada pelo delegado à imprensa. O jovem, que está desaparecido, é o provável co-autor do homicídio junto com a mãe, mas o delegado ainda investiga as inúmeras hipóteses que resultaram no bárbaro crime. Em desfavor de “Worlock”, há um mandado de prisão por latrocínio (roubo seguido de morte) expedido anteriormente pela Comarca de Minaçu. Durante as apurações do caso, feitas em total sigilo nas últimas duas semanas, o delegado apurou que Rui e Marcelina tiveram uma violenta discussão na casa onde moravam, no Setor Belo Horizonte, naquele domingo. O professor do Sesi-Senai, segundo relato de vizinhos, teria pedido socorro aos gritos, em desespero, dizendo que Marcelina estaria de posse de uma faca. “Ela vai me matar”, teria dito o professor. Na ocasião, algum tempo depois da confusão, a Polícia Militar (PM) foi chamada mas a filha do casal – uma menor de 17 anos – teria dito que não havia nada de errado e, por isso, a PM não constatou nenhum tipo de anormalidade que motivasse a corporação a entrar na casa. O GIH só tomou conhecimento do desaparecimento do professor quando colegas de trabalho do Sesi-Senai procuraram a especializada na terça-feira (9) dando conta de que Rui Santos era um professor comprometido com seus alunos e muito assíduo às aulas e, que por isso, estranharam seu repentino desaparecimento. Ainda de acordo com o delegado do GIH, registros da Polícia Civil em Niquelândia apontaram que Marcelina havia registrado, desde 2009, alguns boletins de ocorrência contra o marido pelos crimes de danos e ameaça, como fruto de uma vida conjugal conturbada. A última dessas brigas, no domingo (7), teria sido o estopim para que mãe e filho matarem o professor. Com a prisão temporária de Marcelina por até 30 dias - prorrogáveis por mais 30 dias se necessário - o delegado vai requerer à Polícia Técnico-Científica que um reagente conhecido por luminol seja aplicado nos cômodos da casa onde a família morava para tentar encontrar possíveis vestígios de sangue do professor morto, mesmo que Marcelina e Worlock tenham usado fortes produtos de limpeza para eliminar as pistas do assassinato. Apesar da Polícia Civil ainda não ter conseguido definir qual teria sido a conduta de cada um, a principal linha de investigação aponta até o momento que Marcelina teria matado o marido e que Worlock foi o responsável pela desova e ocultação do cadáver do educador na cova às margens da rodovia que liga Niquelândia a Colinas do Sul. Na segunda-feira (8) - no dia seguinte à possível briga, segundo o delegado - Marcelina registrou boletim de ocorrência de lesão corporal contra o marido no DP na região central da cidade quando relatou que teria sido defendida por Worlock; e que após a discussão, cada um dos três saiu de casa para locais diferentes, em rumos ignorados. Em tese, informou Cássio, a mulher teria feito o registro dessa ocorrência pensando numa espécie de ‘salvaguarda’ para não ser tipificada como provável autora do delito.
“A própria convivência ‘diferenciada’ entre eles, - em comparação com o que seria o cotidiano normal de um casal que vive tranquilamente - não nos permite afirmar que ela ficaria muito emocionada com a morte do marido. Mas o que nos levou a ter desconfiança e levantarmos a suspeita da possível autoria dela (Marcelina) foram contradições nas informações que ela nos prestou em depoimento, aqui na delegacia; e elementos do relato de outras testemunhas, como da própria filha menor, que foi ouvida por nós na presença do Conselho Tutelar”