Viva como burguês, beba leite todo mês

Vou confessar aos nobres leitores: gosto de assistir novela e estou torcendo para a Paula (irmã da Thaís) ser a grande bandida da novela global "Paraíso Tropical" – a única novela que assisto (é sério!). Por conseqüência disso, toda noite acabo assistindo a um comercial que tem o seguinte jingle: "Viva com alegria, beba leite todo dia. Viva com energia, beba leite todo dia". Trata-se de uma campanha publicitária do Sindicato das Indústrias de Laticínios do Estado de Goiás (Sindileite), que visa estimular o uso do saudável produto. Vai ver o povão se sensibiliza e começa mesmo a tomar mais leite, deixando de comer para isso. Com o preço que andam os produtos lácteos, o assalariado tem de optar entre leite ou frango, os dois não dá. Queijo, por exemplo, agora é item de luxo na mesa do trabalhador. Num país onde tantos dependem de bolsa disso e bolsa daquilo, o slogan mais adequado seria: "Viva como burguês, beba leite todo mês" ou ainda "Viva como gringo, beba leite todo domingo". Se para ser alegre e ter energia fosse mesmo necessário beber leite todo dia, nossos professores da rede pública de ensino seriam todos carrancudos e andariam desmaiando pelos cantos. Exageros a parte, o preço do leite é desanimador. "Brasil, o país dos impostos". Esse slogan sim, de uma campanha encabeçada pela rádio Jovem Pan AM, condiz com a realidade nacional. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), o percentual de tributos sobre o preço final do leite é de 33,63%. Isso significa que um litro de leite que custa R$ 1,80 no seu supermercado favorito sairia das prateleiras por R$ 1,19, não fossem os impostos. Considerando esses mesmos valores e bebendo uma caixa de leite por dia, uma família gastaria R$ 35,70 por mês, e não R$ 54,00. Com respeito a essa situação, se eu fosse deputado federal (alô representantes do Norte Goiano) apresentaria um projeto de lei isentando os itens da cesta básica de qualquer tipo de tributo. Certamente isso recuperaria um pouco do prestígio da Câmara dos Deputados perante a opinião pública, se é que isso é possível.