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OPINIÃO

Trigo no Cerrado: teremos autossuficiência?

Artigo de  Nilson Jaime, D.Sc.


Publicado em 07 Novembro 2020

Nilson Jaime, D.Sc.

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O naturalista Francês Saint-Hilaire, ao viajar por Goiás,  em 1819, previu que a então Capitania seria propícia ao cultivo de trigo (Triticum aestivum, Triticum durum), hoje o segundo cereal mais cultivado no mundo,  após o arroz. 

O autor de "Viagem à província de Goiás" (quando o livro foi escrito, no início da década de 1830, Goiás passara de capitania a província), não foi preciso, contudo, quanto à espacialização das áreas de cultivo de trigo. Sugeriu que seria Meia-Ponte a alavancar o cultivo desse cereal. Não tinha como saber que a construção de Goiânia e de Brasília reservaria a esse município as "indústrias sem chaminés" do turismo.

O engenheiro e botânico francês Auguste Glaziou -  alcunhado "O Botânico do Rei", pela amizade com Dom Pedro II e pelos trabalhos paisagísticos que realizou na Quinta da Boa Vista, propriedade da família imperial, no Rio de Janeiro - vaticinou  com muita precisão que o "Eldorado" do trigo encontrava-se no Planalto Central. Glaziou fez parte, extra-oficialmente, da Comissão Exploradora do Planalto, de Luis Cruls, responsável pela demarcação do "Quadrilátero Cruls" (1892), atual território do Distrito  Federal. 

A dependência brasileira da importação de trigo está hoje em  cerca de 50%, mas já foi muito maior. 

Por questões edafoclimáticas, o trigo brasileiro era mais pobre em glúten  que o trigo importado. Ou seja, era mais "mole" que o cereal "duro", vindo do exterior. 

 Ao contrário dos que pensam que o glúten é uma característica depreciativa e negativa das farinhas de trigo, essa proteína é que determina a qualidade do produto. Quanto mais glúten, mais o pão cresce. [Não me refiro aqui ao Bromato de Potassio e outros adjuvantes químicos, que fazem o pão crescer artificialmente, porém tornando-o ressecado e  quebradiço].

[Sugiro aqui uma experiência prática para que o leitor visualize o glúten: tome um copo de farinha de trigo e vá acrescentando água enquanto mistura, até fazer uma massa homogênea. Após deixar em repouso por meia hora, lave a massa. O amido  deverá se desprender em um líquido leitoso. A substância marrom remanescente, semelhante a chiclete, é o glúten,  proteína que faz crescer o pão].

Por alguns anos acompanhei, como consultor de qualidade dos alimentos em diversas indústrias alimentícias, a rotina dos mestres-padeiros nos moinhos de trigo. 

Após a moagem, o profissional experimenta diversos mix, ou blend, de farinhas com diferentes teores de glúten. Assim, o mestre-padeiro determina a mistura  adequada para cada lote de trigo, a fim de compor a farinha de trigo ideal. 

Conforme se vê no vídeo abaixo, a Região do Entorno de Brasília, que inclui áreas do Distrito Federal, Goiás e Minas Gerais, será o grande celeiro da produção de trigo no Brasil, propiciando mais uma alternativa para o cultivo de terceira época ao triticultor-irrigante, e mais autonomia ao país. 

O Brasil tornar-se autossuficiente em trigo, contudo, por razões de caráter agroindustrial, é improvável.

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