Obesidade: da dieta à cirurgia
Publicado em 27 Outubro 2007
O Brasil tem cerca de 18 milhões de pessoas obesas. Somando ao total de indivíduos acima do peso (sobrepeso) chegamos a 70 milhões, ou seja, 40 por cento da população. O número de pessoas acima do peso dobrou nas últimas três décadas e entre as crianças a obesidade cresceu 240 por cento nos últimos vinte anos. Assistimos no nosso País o que chamamos de transição nutricional, que consiste na redução dos níveis de desnutrição e aumento dos índices de obesidade. O número de obesos já é quase três vezes maior que o número de desnutridos e ambas são consideradas doenças, pois além de encurtar a vida do indivíduo piora a sua qualidade, estando associadas ao surgimento de uma série de outras doenças.
Caracterizamos a obesidade pelo acúmulo de gordura corporal e utilizamos o índice de massa corporal (IMC) para quantificar o excesso de peso. Este índice é calculado dividindo-se o peso (em quilos) pela sua altura (em metros) ao quadrado. Consideramos peso normal quando o resultado deste cálculo está entre 18,5 a 24,9; classificamos como sobrepeso o IMC entre 25 a 29,9; como obeso as pessoas com IMC superior a 30 e denominamos obesos mórbidos aqueles que apresentam IMC maior que 40. À medida que aumenta o excesso de peso eleva-se o risco de se adquirir uma série de doenças, como: hipertensão arterial, diabete, problemas articulares, problemas respiratórios, elevação do colesterol, além de várias outras morbidades. Isto piora a qualidade e diminui a expectativa de vida dos seus portadores: o obeso mórbido vive menos e vive mal. O aumento do número de casos de obesidade e os seus crescentes custos sociais e econômicos a colocaram como um dos principais problemas de saúde pública da atualidade exigindo do poder público a atenção e o investimento em prevenção compatíveis com a sua importância.
Nos quadros mais leves o tratamento consiste em redução do conteúdo calórico e melhor distribuição das refeições ao longo do dia. Reduções calóricas de 400 a 500 kcal/dia são recomendadas para a perda de 0,5 a 1 quilo por semana. Este total pode ser incrementado quando associado à prática esportiva. Por outro lado, as dietas de muito baixa caloria, com até 800 kcal/dia, e o uso de medicamentos promovem redução mais acentuada no peso, mas devem ser realizadas sob supervisão médico-nutricional, pois apresentam maiores riscos. Nos casos de obesidade severa o tratamento clínico não apresenta resultados satisfatórios em relação à perda de peso e falha principalmente na manutenção do peso perdido. Mais de 95 por cento dos obesos mórbidos que perdem peso com o tratamento clínico voltam a engordar no período de um ano.
O freqüente insucesso dos tratamentos clínicos, o efeito negativo da obesidade nos aspectos psico-sociais e, sobretudo, a capacidade do excesso de peso em gerar outras doenças estimularam o desenvolvimento de tratamentos cirúrgicos. Deste modo, a partir da década de 50, vários procedimentos foram propostos para o controle da obesidade. Hoje, entre os estudiosos do assunto, não resta dúvida de que o tratamento cirúrgico é o meio mais eficiente para a perda de peso e a manutenção do peso perdido. A cirurgia da obesidade mostrou-se um método bastante seguro de tratamento, embora como todo procedimento cirúrgico possa apresentar riscos. Os avanços no conhecimento dos aspectos envolvidos na cirurgia deram mais segurança aos pacientes que necessitam desta forma de tratamento e a torna mais acessível para aqueles que necessitam resgatar a saúde perdida com os graus elevados de obesidade.
Oscar Barrozo Marra é médico e professor do Departamento de cirurgia da UFG/HC, coordenador do Programa de Cirurgia da Obesidade do HC, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia da Obesidade oscarbm@uol.com.br