O triunfar dos corruptos
Publicado em 27 Outubro 2007
Josias Luiz Guimarães é veterinário e pós graduado em filosofia
Ao tempo da velha república, havia um paladino da liberdade e transparência na administração pública, que lutava com brio e garra, contra a oligarquia que, há muito, manipulava o poder; era Rui Barbosa, esse Paladino. Com efeito, a história de Rui é, quase que, a história de sua luta contra a banda podre da República. Tribuno de notável qualidade, empolgava ele, a sociedade de então, e o próprio Parlamento, com seu espírito cívico, vontade soberana, aliada a luta pelo predomínio da Política, como a arte de bem governar e, assim, a busca, permanente, do bem maior da comunidade, qual seja, a felicidade do povo.
Rui foi-se, em 1923, sem ver o seu grande objetivo; anseio maior da nação: a democracia, triunfar sobre a oligarquia dominante. Embora tenha se notabilizado pelo seu brilhantismo, competência, na luta pela consolidação dessa democracia nascente, conseguindo a instalação da primeira constituinte e o subseqüente fim da ditadura republicana, ainda que insustentável, suscetível de outro golpe, golpe esse, desencadeado por Floriano Peixoto, vice do Presidente Teodoro da Fonseca, cujo primeiro ato foi o de banir a nova constituição, o que levaria Rui ao exílio, pelo seu gesto corajoso em defesa da ordem constituída; ordem essa, que, nem a Suprema Corte da República, ousara assegurar.
Banido da vida política brasileira, pelo arbítrio, todavia, mesmo o exílio, lhe renderia loas, loas, pela sua audácia, altivez, como partícipe na conferencia da Liga das Nações , onde conquistou o laurel de “Águia de Haia”, maior honraria que um representante, embora expatriado, poderia obter, no conserto das nações civilizadas. Entretanto, não conseguira ele, no alvorecer do novo século, subjugar a oligarquia, herança macabra das cortes palacianas.
Aturdido, agora, pelo espetáculo quixotesco do Senado federal, cabe-me, primeiro dissertar – o poder, no sistema democrático, emana do povo e deve ser exercido em seu nome – para depois questionar: teria você, sociedade eleitora, concedido, a eles, representantes contratados pelo seu voto, direitos, também, para exercitarem, em seu nome, a maquiavélica arte de surrupiar os tributos que, mesmo com dificuldades mil, paga aos cofres públicos?
Paira no ar a dúvida: seria intriga da oposição ou prevaricação? Ora, intriga não levaria a uma comissão de ética multipartidária. Entrementes, a própria CPI das empreiteiras, constitui a prova cabal, pois, ela constatou que 40% dos recursos da União vêm sendo abocanhados pelo superfaturamento, nas licitações públicas fraudulentas, que, manipuladas, vão alimentar os bolsos dos corruptos, na forma de caixas dois, campanhas milionárias, e,até, paraísos fiscais.
Reverter esse quadro nababesco constitui imperativo. Imperativo aliado a todo eleitor dotado de consciência cívica, pois esses recursos, tomando como base o orçamento federal deste ano, são superiores a duzentos bilhões de reais, os quais aplicados, na forma da lei, fiscalizados pela sociedade, solucionariam, paulatinamente, os problemas da educação qualidade, saúde, segurança, estradas; possibilitando, ainda, a constituição de um fundo bilionário destinado a financiar, a custos módicos, a mini, pequena e média empresa, e, inclusive todo aquele trabalhador empenhado em ser proprietário de si mesmo, natural que, supervisionado por organismos competentes. Investimentos tamanhos, alavancariam, ao longo dos anos, o pleno emprego, possibilitando a integração de milhões de patrícios, deserdados da sorte, na vida política, econômica e social da comunidade brasileira; todavia, ensinando-os a pescar, financiando a vara de pegar o peixe, e não, dando-lhes, simplesmente, o pescado.