Europa
Publicado em 07 Outubro 2007
Pe. Crésio Rodrigues
Estou, juntamente com três colegas sacerdotes, conhecendo alguns países da Europa central e chegaremos a Roma onde nos encontraremos com nosso Bispo Dom Messias e visitaremos o Vaticano. Podemos chamar isto de peregrinação porque a visita às inúmeras Igrejas para conhecer e fazer uma prece é nossa predileção. Trazemos no coração nossos paroquianos e por eles oramos. Uma verdadeira aventura na Fé pelo desafio que se enfrenta quando se entra em terra estrangeira, quando não se conhece os costumes, as leis, a comida e sequer o idioma, necessidade básica para uma interação tranqüila com a cultura de um povo.
Este passeio faz parte de um processo existencial em que expomos nossas convicções ante realidades tão diversas e provocadoras. Aqui temos percebido que neste mundo há "muitos mundos". A pluralidade étnica põe às claras as diferenças geográfica, climática, econômica, política, atingindo os costumes morais e religiosos.
Esta experiência nos ajuda a adentrar mais no mistério do ser humano e nos faz refletir quanto ao nosso papel de ministro do Evangelho, nosso lugar e responsabilidade junto aos milhares de irmãos que o Pai permite que encontremos em nosso curto tempo de vida. Por exemplo, depois de dez anos, encontrei-me com uma parenta em Bruxelas. Ao apresentá-la ao Padre local ele disse que a conhecia e sentia falta dela na Comunidade; ela se manifestou desejosa de voltar, inclusive a cantar nas celebrações.
Aproveitou pra "desabafar" algumas amarguras e ouvir um conselho do primo padre. Com ela deixei a obra clássica de Mark W. Baker que eu estava lendo: "Jesus o maior psicólogo que já existiu", um texto rico na combinação entre a ciência da Psicologia e a Sabedoria de Jesus.
Com este exemplo, chego a um ponto nevrálgico deste artigo, uma triste constatação: a frieza espiritual e religiosa de grande parte dos europeus que influencia os imigrantes latinos que aqui vêm trabalhar. Segundo constatamos, muitos brasileiros foram atingidos pelo materialismo e, sobretudo o tecnicismo que os europeus adotaram. Neste mundo, com os olhos fincados no dinheiro, muitos perdem o hábito da oração e do compromisso comunitário que a fé clama.
A Europa, depois do "Pentecostes em Jerusalém", foi berço do Cristianismo, que não é uma doutrina mais que um jeito de viver, voltado para a alteridade e a Divindade: superação do egoísmo e do paganismo (Mt 7,12). Agora, o quadro que se vê não é animador, as Igrejas estão mais vazias e, em alguns casos a fé é absurdamente ridicularizada, como vimos em Amsterdã (cartões simulando Jesus fumando maconha). Uma moral paganizada campeia por aqui, o Islamismo e o ateísmo avançam.
Pra se ter uma idéia mais concreta da situação, vejamos algumas estatísticas do Almanaque Abril e do Jornal Missão Jovem - 2005: A Europa tem 746 milhões de habitantes, 285 milhões de católicos (39,0%). Há 100 anos atrás 70% dos cristãos do mundo viviam na Europa. Na capital belga, com cerca de 1 milhão de habitantes, estima-se que há hoje 53 mil brasileiros trabalhando. Na Missa deste domingo, a "Eglise Jèsu Travailler" contava com um pouco mais de 400 fiéis, no horário destinado aos brasileiros. Provavelmente, mais outro tanto de católicos do Brasil foram às Missas em espanhol ou francês; há também 8% de cristãos de outras denominações, o que somaria 864 brasileiros professando a fé no Dia do Senhor. Isto é muito pouco para 53 mil: estes brasileiros estão esfriando na Fé e, quiçá, nos costumes éticos. A Nara Gabriella me testemunhou ter ouvido de um belga: "Os brasileiros buscam a Deus pensando que Ele existe porque são pobres e esperam que Ele dê as coisas".
Mas eu erraria se dissesse que é o fim da fé na Europa: O trigo ainda existe, o grão de mostarda está vivo. Cremos na força do Evangelho que abraçamos e exortamos a todos os que lerem este texto a resistirem na fé, a não sucumbir frente o inimigo (1Pd 5,8s).