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Depois da gasolina, é a vez do leite batizado


Publicado em 11 Novembro 2007

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Qual cidadão, entre os adeptos da leitura, já não leu ou, ao menos, ouviu falar da revista Seleções – de formato pequeno, com publicação em inúmeros idiomas e em vários países do mundo. Fui leitor assíduo dessa revista nos tempos de adolescência, quando um de meus tios tinha a assinatura da publicação. Numa de suas edições – lembro-me até o ano: 2002 – saiu uma matéria alegando, com os devidos embasamentos, que o leite contém as chamadas "calorias negativas", isto é, o consumo do produto acelera o metabolismo e contribui para o emagrecimento, além de ser saudável. Passei a ser mais mamífero a partir daquele dia. Só não pensava que os tempos iriam mudar tão rápido de uns anos para cá. Em época de combustível adulterado, jamais poderia imaginar o brasileiro bebendo leite "batizado"! Leite sempre foi sinônimo de saúde e, num mundo capitalista e cada vez mais consumista, essa saúde começou a vir acompanhada de ferro, zinco, cálcio, ômega 3 e, mais recentemente, de água oxigenada e soda cáustica. Tudo pelo dinheiro... e pelo reaproveitamento de leite azedo. E como saber se minha marca favorita vem com esses dois últimos ingredientes? Basta verificar nas caixinhas longa vida (UHT) o selo de qualidade do Ministério da Agricultura. Sabe aquele leite fresquinho das vaquinhas da vovó, da ordenha do alvorecer, grosso de nata, vendido pelo leiteiro do bairro em garrafas de vidro. Os menos jovens hão de lembrar, já os mais novos não, e sabe por quê? Porque gente desalmada começou a adicionar água no produto e, por isso, em grande parte dos municípios brasileiros sua comercialização foi proibida nos últimos anos. Imagino que no país da justiça "igual para todos", os laticínios inventores do "shake oxigenado" serão fechados, seus maquinários confiscados e leiloados a cooperativas idôneas e seus proprietários verão o sol nascer quadrado – ao menos por um dia –, depois de receberam rigorosa multa. Para quem não tem acompanhado o noticiário, vale esclarecer que alguns laticínios vinham adicionando água oxigenada e soda cáustica – entre outros inacreditáveis ingredientes – ao leite de caixinha, para estender o prazo de validade do produto e, em alguns casos, para "reciclar" leite já vencido e azedo. E há laticínios goianos na lista de suspeitos. E o pior, só ficamos sabendo da existência dessa fraude através de denúncias de funcionários descontentes com os patrões. Os órgãos competentes responsáveis pela fiscalização ou fizeram vista grossa por motivos escusos ou não são tão competentes assim. Durante meses, mais de um ano talvez, dezenas de milhares de pessoas, boa parte crianças, beberam o "saudável" leite de cada dia, mais preocupados com as calorias da manteiga, certamente. Numa manhã dessas, depois de um café com leite na padaria, sofri uma descomunal dor de barriga. Como não havia comido nada, logo especulei: "talvez eu seja alérgico a algum aditivo do leite, alguma vitamina extra quem sabe". O certo é que anda muito perigoso ser mamífero ultimamente. LF Cardoso é repórter do Diário do Norte e autor do blog Café com Jornalista http://cafecomjornalista.blogspot.com>

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