A arte de fazer segurança pública em Niquelândia
Publicado em 04 Novembro 2007
Claudemir Vieira Cruvinel é 1º Tenente da Polícia Militar
Diz o dito popular que a democracia é "a ditadura imposta pela maioria". Verdade ou não, será que isto vale para Niquelândia? Será que aqui a vontade da maioria tem imperado? Em uma pesquisa feita pelo Serpes, a pedido da administração pública municipal, a população aprovou o trabalho da polícia com índice de 86,5%. Isto prova que a maioria quer que a polícia continue cumprindo a lei e que a ditadura da maioria, que faz sinonímia com democracia, impere em Niquelândia. Com este resultado, só me paira à mente a vergastada pergunta que deturpa meu poder de entendimento: como o trabalho de uma polícia que tem a aprovação da comunidade, pode ser taxado de "ações violentas"? Fazemos palestras em escolas, recebemos visitas em nosso quartel de escolas e entidades filantrópicas, recebemos denúncias de crimes todos os dias e ainda estamos trabalhando arduamente para manter nossas crianças longe das drogas e da violência, através do PROERD, em parceria com a Prefeitura Municipal e com o Conselho da Comunidade de Niquelândia. Como pode alguém nos taxar de violentos? Tivemos em Niquelândia o carnaval mais tranqüilo do Estado, onde não houve nenhum roubo nem homicídio. Tivemos a Festa da Pecuária e da Romaria do Muquém mais bem policiadas da história de Niquelândia. Estamos sendo elogiados por autoridades de outros estados e até mesmo pela Interpol pela prisão de um criminoso internacional. Em oposição a isto, fomos criticados em uma entrevista de rádio, por estarmos realizando abordagens a veículos suspeitos, ou seja, por estarmos cumprindo nossa função constitucional que é o policiamento preventivo e ostensivo. Fomos acusados ainda de sermos enérgicos. Somos enérgicos, sim, porém, é na defesa do cidadão de bem e contra a tirania dos corruptos e criminosos. Há anos, não se vê falar em assalto a postos de combustíveis. Não houve uma única denúncia de corrupção envolvendo policiais militares desde que para aqui viemos. Implantamos o Grupo Tático de Motociclismo nos moldes da doutrina do Grupamento de Intervenção Rápida e Ostensiva (GIRO) e conseguimos mais 13 novos policiais militares para a cidade.
Você, cidadão, sabe que hoje seus filhos podem sair e voltar para casa com mais segurança. Já registramos mais de mil ocorrências somente este ano, dentre elas, nenhum assalto a banco foi constatado. Analisando a realidade de Niquelândia, um município do Norte Goiano, com rotas de fuga de bandidos para a Bahia, Brasília e vários outros pontos do país, enorme população flutuante e grande extensão territorial, isso deveria ser considerado um milagre? Claro que não. O que houve aqui foram ações ousadas de homens sérios e preocupados com o bem-estar da sociedade.
A Polícia Militar cumpriu somente este ano mais de 70 mandados de prisão de foragidos da Justiça em Niquelândia sendo que, alguns deles, de agressores da sociedade que cometeram crimes em outras regiões e estavam escondidos aqui para praticarem mais crimes. Muitas pessoas não estão preparadas para aceitarem um policial honesto, pois se ele vê uma infração de trânsito, ele apreende e autua, se vê crime, ele prende. Todos que transgridem a lei sentem o peso de sua justiça, tanto o rico quanto o pobre, o poderoso quanto o mais simples dos cidadãos, pois o policial honesto, não tem compromisso com interesses particulares nem com a corrupção, mas tem compromisso com a lei e com a justiça.
Toda a mudança que realizamos aqui é fruto do árduo trabalho de policiais militares defensores da paz, guerreiros audazes no combate à criminalidade, faça dia ou faça noite, chuva ou sol. É também o resultado de noites sem dormir, nas madrugadas que passaram em estradas poeirentas ou cobertas por lama. Esburacadas, cheias de aclives e montanhas. Longe de suas camas quentes, de suas famílias. Usando farda rústica, coturno apertado, boina incômoda, cinto pesado pelo acoplamento de armas, munições, algemas... Sofrendo com cansaço físico e mental, porém aguerridos na missão sublime de manter a ordem. Sendo obrigados a ouvir centenas de críticas, blasfêmias, desacatos e loucuras de todas as espécies. Atendendo a pessoas deprimidas, esquizofrênicas, drogadas, bêbadas... Tendo que conviver diariamente com a violência, porém sendo obrigados a manterem-se serenos e cautelosos.
Ser policial militar é assim. Depois de vinte e quatro horas de muito trabalho, dezenas de ocorrências e problemas de todas as naturezas, você ainda se vê obrigado a permanecer no banco de uma delegacia por horas, durante a lavratura de um Auto de Prisão em Flagrante ou na sala de audiência do Fórum sendo ouvido como testemunha, vítima ou réu. É ainda ter que dobrar o turno à procura do filho desaparecido de uma mãe desesperada e quando chegar em casa, com as forças esgotadas e de olhos inchados pela abstinência do sono, ouvir críticas de seus familiares por ter chegado tarde em casa porque, à procura do filho dos outros, muitas vezes nos esquecemos que também temos os nossos. Processos, inimigos, doenças adquiridas pelo stress causado pela tensão da prevenção constante, ansiedades, depressões e problemas mentais assolam a atividade policial, pois o policial tem segundos para tomar uma decisão durante a ocorrência, porém a sociedade e a justiça têm anos para julgar o fato.
Somente o poderoso Deus seria capaz de entender a paixão que possuímos pela nossa profissão, pois mesmo sofrendo a dor do dardo peçonhento da ingratidão, continuamos de peito arfante com a consciência do dever cumprido. Que venham as críticas, as tribulações, as ingratidões e as perseguições, pois é no combate que o infante é forte. Somos guerreiros no combate ao crime, guardiões da sociedade e a ela juramos defender, mesmo com o risco da própria vida. Talvez seja isso que nos faz caminhar de cabeça erguida. A consciência de cumprir com o dever e a confiança que o cidadão honesto deposita em nós. Isto não tem preço. Como é bom ser policial militar! Proteger o inocente contra a crueldade dos déspotas, mesmo que não recebamos "um muito obrigado". O sorriso de uma criança quando vê sua mãe que foi defendida contra um agressor, nos cobre de graça e nos faz pensar que ser Policial Militar é uma arte.