Publicado em 18 Agosto 2014
Marco Rípoli é gerente de Marketing Estratégico para a América Latina da John Deere. Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP
A mecanização do mercado de cana-de-açúcar no Brasil não é um fato inédito e os dados do setor comprovam essa realidade. Ainda especula-se bastante sobre os gargalos e os desafios, que são inquestionáveis, mas hoje, podemos dizer que a colheita mecanizada tem, sim, um alto investimento em tecnologia, o que permite aprimorar cada vez mais as máquinas.
E isso tem acontecido em todas as empresas do segmento. Enxergamos no setor canavieiro nosso segundo maior negócio, apenas atrás de grãos, e as tecnologias estão disponíveis para aumentar a produtividade, além de oferecer custo de operação e manutenção reduzidos aos agricultores.
As melhorias tecnológicas estão sendo ampliadas e não devem parar por aí. Esse ano, importantes novidades foram apresentadas ao mercado de cana-de-açúcar, como os pulverizadores na versão canavieira, que junto das já consagradas colhedoras, atendem às necessidades dos produtores em diferentes regiões do Brasil e oferecem soluções integradas em todas as etapas do trabalho.
As colhedoras trazem o Controle Integrado da Altura do Corte de Base (CICB), um sistema inteligente que controla eletronicamente a pressão de apoio dos divisores de linha flutuantes, em função das irregularidades do solo. As movimentações dos divisores são captadas por sensores de posição, que irão coordenar a variação da altura do corte de base em função do alvo pré-estabelecido pelo operador.
Além de possuir regulagens simples, o CICB tira do operador a tarefa de regular continuamente a posição dos divisores de linha e discos de corte, já que a função passa a ser automatizada. Dessa forma, o profissional ficará mais atento a outros pontos da operação, como por exemplo, o corte de pontas. Essa tecnologia facilita o dia a dia na lavoura, sendo que a alta performance do sistema de corte rente ao solo preserva a soqueira e reduz a quantidade de impurezas minerais, já que minimiza o contato dos discos de corte com o solo.
As paradas de trocas de facas do corte de base e picador são reduzidas e a disponibilidade do equipamento aumenta. Deste modo, o CICB diminui o custo de operação, já que o desgaste de facas do corte de base e picador estão reduzidos e o consumo de combustível também. As principais colhedoras do mercado possibilitam a colheita de duas linhas de cana com espaçamento reduzido ou adensado de até 1,10 metro garantindo maior rendimento.
A mecanização reduz o custo da colheita e torna as lavouras de cana-de-açúcar mais competitivas. A capacidade de colheita dos últimos 50 anos por conta da mecanização aumentou bastante. Atualmente, 90% da área plantada de cana em São Paulo é colhida de forma mecânica, sendo 80% do plantio já é mecanizado.
No início, os equipamentos chegavam a colher apenas 15 toneladas de cana queimada por hora, porém as estimativas do BNDES apontam que atualmente colhem-se 70 toneladas de cana crua por hora. Mas ainda com esse avanço e a aposta em tecnologias, os desafios estão presentes no cotidiano do canavial brasileiro.
Qualificação: um caminho a ser percorrido
Nesta empreitada, podemos mencionar como um grande desafio a escassez de mão de obra qualificada. Para manusear uma máquina colhedora é preciso estar preparado e por isso, os simuladores foram desenvolvidos para treinar operadores, desde aqueles que não possuem nenhuma experiência, como aqueles mais experientes que necessitam passar por uma reciclagem.
A grande vantagem do simulador é a segurança que ele proporciona ao operador, que conduz a máquina com um preparo melhor, diminuindo o risco de acidentes e os danos ao equipamento. Após o treinamento nos simuladores, a operação e a colheita são mais eficientes, pois o tempo de manobra é mais rápido.
O simulador replica exatamente as situações que os condutores encontram na lavoura, com o máximo de realidade possível. O ideal é que o operador seja bem treinado para o trabalho no campo e com isso, passe pelo simulador. Esse ainda é um grande gargalo do setor, e além dos simuladores, os concessionários também precisam estar capacitados para treinar os clientes.
Tecnologia no campo
Prova desta aposta em aparatos tecnológicos é o investimento feito em pesquisa e inovação para que possamos atender às necessidades dos clientes de maneira mais eficaz, aumentando a produtividade e ao mesmo tempo preservando os recursos naturais.
Essa realidade é um caminho sem volta e o produtor que não se inserir neste contexto estará perdendo em produtividade. Prova disso são os índices de mecanização do setor já citado anteriormente. Para isso, parcerias com empresas que desenvolvem softwares de gerenciamento agrícola são importantes. Eles auxiliam a execução do trabalho, coletam informações para análise logística, contabilizam o trabalho realizado e ainda tem a grande vantagem de possuir interface mais moderna e intuitiva, com uma série de tecnologias que garantem que os dados do trabalho das frotas cheguem até o escritório diariamente, mesmo quando não há cobertura de sinal GPRS no campo. Isso tudo por meio de um moderno computador de bordo, que possibilita o controle operacional e gestão da informação.
As soluções se adaptam às mais variadas necessidades do campo. Grande parte dos produtos tem o sistema de agricultura de precisão que colabora com a redução do tempo de realização de determinadas tarefas, da quantidade de mão-de-obra empregada e da força de trabalho residente na propriedade.
Além disso, as máquinas equipadas com o sistema de agricultura de precisão colaboram na economia de insumos, combustível e aumento da produtividade, sendo assim, o retorno é comprovado. Sabemos que ainda existem lacunas a serem preenchidas, mas a aposta em mecanização é fundamental nesse setor e continuaremos investindo alto em tecnologia para levar aos produtores, sistemas que tornem o processo de produção da cana-de-açúcar cada vez mais seguro e eficiente.
Marco Rípoli é gerente de Marketing Estratégico para a América Latina da John Deere. Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ – USP e Engenheiro Agrônomo pela ESALQ – USP.