Publicado em 10 Janeiro 2011
Euclides Oliveira
O prefeito Ronan Rosa Batista (PTB) acredita que os efeitos da crise administrativa que pairam sobre sua gestão serão dissipados ao longo de 2011 e 2012, quando espera receber apoio maciço do governador do Estado, Marconi Perillo (PSDB), para empreender diversas obras em Niquelândia. Na entrevista ao Diário do Norte, no final da tarde da sexta-feira (21 de dezembro), Ronan avaliou o resultado da eleição de 2010 como "altamente positivo", apesar da derrota, na cidade, da esposa e primeira-dama Gracilene Batista (PTB), na disputa por uma vaga de deputada estadual para o ex-prefeito Luiz Teixeira (PSC), igualmente derrotado na disputa. Segundo Ronan, seu grupo político preocupou-se realmente em ganhar as eleições; e segundo ele, faltaram apenas 5 mil votos para que Gracilene fosse eleita. Ele criticou os adversários da ex-candidata que, segundo o prefeito, colocaram seu nome em público apenas para ganhar notoriedade em 2012. Sobre os eventuais erros de seu governo, que culminaram com a paralisação de diversas obras e a exoneração de mais de 300 funcionários comissionados, Ronan foi emblemático e, como de costume, usou e abusou de frases de efeito para mostrar-se animado com os desafios que ainda terá de enfrentar, até o final do ano que vem. "Meu coração me prejudica como gestor, pois sempre fui empreendedor, quis fazer várias obras. Mas quando eu percebi (a crise) estourou (o orçamento) e parou tudo", afirmou o prefeito de Niquelândia.
Diário do Norte – Que análise o senhor faz da campanha de 2010, no município?
Ronan Batista – Faço um balanço positivo. Vejo que essa eleição foi totalmente direcionada ao nosso êxito, num ano difícil para nós, de Niquelândia, em função da crise mundial (do final de 2008), que nos afetou muito. Mas tivemos uma eleição altamente positiva com o deputado federal Jovair Arantes, que teve aqui uma votação expressiva. Também ajudamos, de certa forma, na eleição do (deputado federal) Vilmar Rocha. A Gracilene (Batista, esposa de Ronan) teve uma votação expressiva, alcançando mais de 14 mil votos, para uma pessoa que nem imaginava ser candidata. Ela deixou, de última hora, a condição de primeira-dama, de dona-de-casa, de mãe para entrar numa campanha. Foi uma descoberta política muito boa. Ganhamos com Marconi Perillo no primeiro e no segundo turno das eleições. Agora, com essas forças políticas do nosso lado, como o Marconi, os senadores Demóstenes Torres e Lúcia Vânia, e os dois deputados federais, nós estaremos muito mais fortes. Até agora, não pude sentir o gosto de ter um governador atuando do meu lado.
DN – Em que momento se deu a decisão do senhor em colocar a primeira-dama Gracilene Batista como a candidata de seu grupo político?
Ronan – A Gracilene é uma pessoa muito ética, altamente inteligente e carismática. Só que ela não tinha essa aptidão (para a disputa). No entanto, falei a ela "acho que você deve ser a nossa candidata", apesar de todo mundo saber que eu queria ser o candidato. Era meu sonho ser deputado e continuo tendo esse sonho. Mas, numa conversa no Muquém, com o Marconi, o Vilmar e o Jovair, eles me pediram para tirar essa ideia da cabeça, que era melhor eu terminar meu mandato (de prefeito) e, depois, ir trabalhar em Goiânia com o Marconi, para assim pensar em ser deputado, no futuro. Ele (Jovair) me disse que não queria que eu saísse candidato naquele momento. Então, dessa conversa, saiu o nome da Gracilene como candidata. E, daí, nasceu uma grande política para Niquelândia e para o Estado de Goiás, uma mulher que tem o dom da palavra e que ainda tem possibilidades eleitorais.
DN – Apesar do posicionamento entusiasmado do senhor, Gracilene não conquistou o mandato de deputada. De alguma forma, foi um erro colocá-la como candidata? As chances do senhor não seriam maiores?
Ronan – Com certeza, pois sou muito conhecido em todo o Norte. Quando eu pensei nisso (na candidatura), fiz uma pesquisa que me dava votos em todas as cidades do Norte. E seria uma votação boa, com uma eleição praticamente 100% garantida. Mas preferi atender os meus chefes maiores, o Marconi e o Jovair, ajudando-os em suas eleições, no Norte inteiro, buscando apoios, fazendo um trabalho em favor deles. Ainda sou novo e, quem sabe, no futuro, possa aparecer uma nova oportunidade para mim.
DN – Essa derrota de Gracilene significa, de alguma forma, o fim de uma eventual carreira política dela?
Ronan – Está provado que ela tem um grande futuro político, pois a votação dela foi superior a que eu imaginava, já que a Gracilene trabalhou em vários municípios e ficou pouco tempo em Niquelândia. Na minha campanha (de 2008), eu andei de casa em casa, aqui em Niquelândia. Na campanha dela, eu não pude fazer isso, praticamente não pedi votos, porque estamos enfrentando problemas administrativos e tive de me concentrar nisso. Foi uma eleição muito difícil, em que ela trabalhou com apoio de vários militantes, basicamente, sem o apoio das forças políticas locais. Por isso, ela foi uma guerreira, foi uma pessoa muito forte. A votação dela foi muito boa, começando com o pé direito.
DN – Entretanto, Gracilene perdeu a disputa interna em Niquelândia. Isso significou o que para o senhor?
Ronan – Esse fato é muito claro e fácil de mensurar. Se nós ficássemos (fazendo campanha) só em Niquelândia, ela (Gracilene) teria 10 mil votos na cidade. Mas ela teria de concentrar seus esforços aqui. Como nos partimos para 20 cidades, automaticamente a Gracilene não estaria o tempo todo em Niquelândia, senão perderia votos fora. Só que nós trabalhamos para ganhar a eleição. Mas tivemos problemas em Minaçu, em Padre Bernardo, em Goiânia e em Cocalzinho, onde perdemos cerca de 5 mil votos, ao todo. Em todas as nossas análises, ela teria 20 mil votos. E, claro, no momento em que ela precisou se afastar um pouco de Niquelândia, ela perdeu espaço, pois tínhamos muitos candidatos de Niquelândia, que ficaram só aqui e que não eram candidatos a deputado, mas sim para divulgar seus nomes à disputa futura para vereador ou para prefeito. Gracilene queria ser deputada estadual para representar nossa cidade e o Norte. Mesmo assim, considero que a votação que ela teve aqui (6.664 votos) foi uma vitória.
DN – Além da derrota da sua esposa e primeira-dama, o Norte acabou não elegendo nenhum deputado. O que aconteceu?
Ronan – Vou aproveitar sua pergunta para puxar a minha orelha e de todos os prefeitos do Norte. Nós, as lideranças maiores do Norte de Goiás, temos que concentrar esforços no Norte, buscar o fortalecimento político do Norte. E teve gente do Norte apoiando gente do Sul do Estado. Na próxima eleição (em 2014), nós precisamos ter apenas três nomes como candidatos do Norte, para fazermos três deputados. Mas precisamos deixar de lado a visão local e individual, enquanto prefeitos, senão vamos ficar para trás.
DN – O grupo político do senhor corre risco de perder as eleições de 2012 para o grupo do ex-prefeito Luiz Teixeira?
Ronan – De maneira nenhuma. Nosso grupo, hoje, não é o grupo só do Ronan. É o grupo do Marconi, do Jovair, do Vilmar, da Lúcia, do Demóstenes e da Gracilene, uma mulher de 14 mil votos. Enfim, é um grupo que se fortaleceu. Vou asfaltar a cidade toda, transformar Niquelândia totalmente. O Marconi me disse que, para ele, é uma questão de honra ajudar Niquelândia com obras e outros benefícios. Ele sentiu na pele a frustração de construir um colégio no Jardim Atlântico e o prefeito (Luiz) não ter liberado o terreno. Estou tranquilo para 2012, vamos chegar muito fortes, mesmo, como nunca chegamos. Concentrei-me muito, por exemplo, na conclusão das obras da BR-414, para que Niquelândia tivesse uma ligação direta com Goiânia. E a obra esta aí. E em setembro deste ano, vamos inaugurar a obra de Saneamento Básico de Niquelândia. Hoje temos o Cine Teatro, onde antigamente havia apenas um alicerce. O Povoado Quebra-Linha está completamente asfaltado. Eu trouxe o Sesi-Senai, o Samu, o Corpo de Bombeiros. Nós éramos uma cidade totalmente excluída e, hoje, todos os prefeitos do Norte sabem o meu nome. Em qualquer lugar que eu chego, é o prefeito de Niquelândia que está chegando.
DN – O que aconteceu ou está acontecendo para que o senhor e seu governo estejam num momento administrativo de dificuldades?
Ronan – Estamos realmente passando por dificuldades. Sempre fui um prefeito empreendedor e tinha muitas obras em andamento, do meu perfil de trabalho normal. E ninguém esperava por essa crise, que nos pegou num momento de surpresa, quando eu estava a mil por hora. Quando eu percebi, estourou, parou tudo. Niquelândia está diretamente ligada à Bolsa de Valores de Londres. Estávamos vivendo um paraíso aqui com o Projeto Ferro-Níquel (paralisado no final de 2008 pela Votorantim Metais, em decorrência da crise mundial), não se conseguia vagas em hotéis, o comércio vivia cheio e nosso trânsito sempre engarrafado. E quando esse projeto parou, a cidade estava cheia, havia muita gente aqui, de vários Estados, para trabalhar na obra. E as pessoas ficaram por aqui, no nosso hospital, na Assistência Social. Isso representou um impacto muito grande, porque eu paguei o Piso Nacional dos Professores, do P1, do P3, do P4, entre outros investimentos, dentro de uma grande empolgação administrativa. Mas tudo o que ocorreu foi bom para repensarmos nossas ações e começar este 2011 com força total. Fui o primeiro prefeito de todo o Estado a declarar apoio claro e explícito ao Marconi, por esse jornal, o Diário do Norte. Mas fui prejudicado (pelo ex-governador Alcides Rodrigues) porque, de todas as verbas que poderiam vir para Niquelândia, não veio nenhuma. Niquelândia não tem um real sequer em obras do Governo do Estado. No dia da crise (final de 2008) nós tínhamos uma receita local de R$ 1,6 milhão/mês, na forma de ISSQN, que caiu para apenas R$ 90 mil.
‘A marca da minha gestão será da transformação’
DN – Quando do anúncio da obra da Praça do Tucunaré Azul, orçada inicialmente em R$ 2,5 milhões, o senhor brincou com a imprensa e com o público, no seu discurso, dizendo que seu CPF estaria comprometido por vários anos, por conta dessa obra, que hoje se encontra paralisada. O senhor se arrependeu de ter iniciado essa empreitada?
Ronan – Não, não me arrependi. Vou terminar essa obra, que vai ser a praça mais bonita de todo o Estado de Goiás e que vai atrair turistas de todos os lugares. Tivemos realmente de parar a obra, porque era um momento de refletir, de recomeçar. Tenho que admitir isso. Falta pouco para concluirmos essa praça, que é um projeto complexo.
DN – O senhor faz autocrítica de seu trabalho como prefeito, de sua pessoa, de suas eventuais contradições, possíveis defeitos e erros que cometeu em sua gestão?
Ronan – Faço autocrítica sim, mas tenho um grande problema. Deus me deu uma cabeça empreendedora, muita vontade e uma certa inteligência para construir obras, mas tenho um coração que, realmente, se debate com a minha cabeça. Se posso dar apenas 5% (de reajuste) eu sempre quero fazer mais pelo nosso funcionalismo, por exemplo. Meu coração mole me prejudica como gestor. E o gestor, às vezes, precisa ser duro, muito duro, pensar somente na administração. Eu penso muito também nas crianças e no povo de Niquelândia.
DN – O que o senhor espera do governador Marconi Perillo? De que forma ele poderá ajudar Niquelândia?
Ronan – De muitas formas. Só de eu saber que posso sair de Niquelândia e bater à porta do Palácio (das Esmeraldas) na hora que eu quiser, para ter uma pessoa para conversar, 24 horas por dia, com meu amigo Marconi Perillo, vejo o quanto isso é importante não apenas para mim, mas para a cidade. Vamos transformar essa cidade, conseguir um prédio próprio para a UEG no meu mandato, entre muitas obras que vamos trazer com o Marconi. Até o momento, não consegui trazer um policial militar sequer a mais para a nossa PM. Mas agora vamos transformar a corporação num batalhão independente (de Uruaçu), colocar um posto policial no Jardim Atlântico, outro na Vila Mutirão, além da Patrulha Rural. Somos o maior município do Estado em área territorial e não temos uma única caminhonete traçada, da PM, para fazer esse patrulhamento na zona rural, que já existe em cidades pequenas. É muito importante, para qualquer prefeito, ter um governador ao seu lado. E vamos, com isso, fechar nossa administração com chave de ouro.
DN – O que o senhor espera do governo da presidente Dilma Rousseff?
Ronan – Não votei na Dilma, mas torço por ela e vejo que é uma pessoa com capacidade. O Jovair, meu criador, que trabalhou por ela na última eleição e é um dos deputados mais influentes de Goiás, agora está com as portas abertas da Dilma, em Brasília.
DN – Em 2008, o senhor se beneficiou do instituto da reeleição. O senhor concorda com essa possibilidade, adotada no Brasil em 1998?
Ronan – Não. Eu sou contra a reeleição. Um mandato só, talvez de cinco anos, seria melhor. De alguma forma, você cria certos vínculos e está administrando uma prefeitura, dentro de uma eleição. Eleição de dois em dois anos mata qualquer gestor público. Isso precisa ser revisto. Acho que todos os cargos, inclusive o de presidente, precisam ser vinculados numa única eleição. Agora, no ano que vem, começa tudo de novo, as articulações, as conversações políticas. Isso é ruim.
DN – A recente exoneração de mais de 300 servidores comissionados não foi uma medida dura demais e impopular para seu governo?
Ronan – Foi, realmente, uma medida dura e impopular. Meu coração está sangrando até hoje, pois a assinatura desse decreto foi a pior decisão que tive de tomar em toda a minha vida, pois tirei (da prefeitura) pessoas que "são Ronan", que trabalharam comigo, que me ajudaram. Mas, para que eu pudesse garantir o futuro da prefeitura; e também para que essas pessoas possam voltar a trabalhar conosco; eu tive de tomar essa atitude. Mas muitas pessoas estão me ligando, dizendo que vão aguardar (serem chamadas) e, nesse momento, estou sabendo realmente quem gosta e quem não gosta do Ronan.
DN – Falando em amizade, o senhor ajudou o vereador Weder Chimango, o Denguinho, a ser eleito presidente da Câmara de Niquelândia. Ele vai comandar a casa pelos próximos dois anos, está hoje em sua base de apoio, mas foi eleito pelo PMDB em 2008 no palanque da oposição. O senhor não teme uma possível traição do Denguinho?
Ronan – De maneira nenhuma. Eu conheço o Denguinho há muito tempo e ele demonstrou para nós, há muito tempo, a sua fidelidade. É uma pessoa que realmente tem compromisso com a gente, é um jovem que ainda tem todo um futuro político pela frente, em Niquelândia, que está começando uma grande história. E a fidelidade é a palavra-chave na política. E o Denguinho já demonstrou isso. Articulei, eu e o meu vice-prefeito José Antonio, para que ele pudesse ser o nosso presidente da Câmara, com a maior tranquilidade do mundo. Agradeço aqui aos vereadores Joãozinho Pernambuco e Dito da Balsa, que abriram mão de disputar a presidência, com muita honradez; e ao vereador Meio Quilo, que sempre foi meu parceiro, como presidente da Câmara, nos últimos dois anos; e também ao vereador Neira Matos. Esses cinco vereadores vão continuar conosco e já nos tornamos uma família. E o Denguinho é inteligente, competente e preparado para fazer uma gestão exemplar.
DN – No final de 2012, qual vai ser a marca dos dois governos de Ronan Batista, quando o senhor se tornar ex-prefeito de Niquelândia?
Ronan – A marca da transformação total, com praças bonitas; com a cidade toda asfaltada; e com a Educação sendo referência nacional, já que vou investir ainda muito nessa área. Na Saúde, onde todos os municípios têm problemas, já conseguimos melhorar o patamar de atendimento do nosso Hospital Municipal, já que o secretário Husam (Sammur) faz um trabalho muito bom, com sua equipe. Além do asfalto novo, precisamos também aplicar muita lama asfáltica nova, no asfalto que já está desgastado. Vamos transformar essa cidade para melhor e deixaremos a marca de ter sido o melhor prefeito da história de Niquelândia.
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